quarta-feira, 3 de abril de 2013

LIVROS PROCESSUAIS DE MANUEL CASTELIN RELACIONADOS COM O LABIRINTO EVOLUTIVO









Estou em processo de realização de um manual para as pessoas que desejem construir seu próprio labirinto personalizado, igual que eu o construí, já em forma de um parque ajardinado, já em forma de uma estrutura básica online que cada um pode encher com suas memórias pessoais à plena criatividade. CLIQUE NA IMAGEM, PARA LER UMA INTRODUÇÃO.



ADVERTÊNCIA: Manuel Castelin usa seus romances e textos como obras processuais, nas que ele vai introduzindo as grandes aprendizagens evolutivas da sua vida, que é o que importa, e não os contos que os envolvem. Como sua vida é uma metamorfosis, onde todo se prova e comprova com vivências intensas e profundas, e o que parecia sólido e útil ontem, já converteu-se em relativo ou inservível amanhã, ele decidiu publicar gratuitamente e de forma periódica, apenas fragmentos dos seus livros em internet, se reservar o direito de modificar ao longo da sua vida todo o que considere ingênuo, rígido, prepotente ou obsoleto, e deconstruir e simplificar sem apego, até que o que fique seja uma síntese vital do essencial aprendido. 

O mesmo ele faz com seus quadros. E é muito possível que acabe fazendo diferentes versões de um mesmo livro em Espanhol Castelhano, em Espanhol Galego ou em Português. Assim que não se considerarão completos e editáveis seus livros até o fim de sua vida, ou após sua morte. (O qual não é garantia nenhuma de que o que parece sábio no fragmento que leu-se hoje, não se tenha convertido numa bobagem amanhã, assim que desfrutai do momento, meus caros, porque uma obra processual é uma obra viva, cheia de infinitas possibilidades e na que os primeiros leitores ainda podem pôr seu graozinho de aréia, com um comentário que apaixoe ao autor e converta ao comentarista em parceiro criativo da obra e até em musa ou muso, enquanto uma obra terminada é um processo morto e, ao cabo do tempo, um fóssil que só apaixoa aos acadêmicos da Paleontología )

Seguindo o anteriormente explicadoA GUERREIRA, uma das novelas mais antigas de Castelin, na que se homenageava a suas colegas de geração, se falava de amor tántrico e da busca de integração de Espanha na União Européia, se encontra agora mesmo em procesual de deconstrucción total e o autor não tem nem ideia, nem lhe preocupa, se se poderá reconstruir algo que valha a pena com os dois últimos temas. A História Contemporânea como motivo, amigos, é uma árvore de folha bem caduca.
VIAJEM DE ORFEU AO 

O músico Orfeo busca a entrada dos Infernos, no País do Fim do Mundo, para pedir a Hades que lhe devolva sua amada esposa Eurídice.  Mas não poderá mudar de dimensão, sem morrer, antes de achar a síntese da sua própia caminhada na vida, para o qual é guiado pelo Guardiâo do Labirinto de Finisterre construir seu próprio labirinto no qual fazer memória dos máis intensos momentos da súa vida para  extrair dela a vibraçao síntese  do seu viver.





A BEBIDA DO PODER

Relato autobiográfico de Manuel Castelin sobre sua estância em Mapiá, Amazonia, sede do Santo Daime, em 1989,  último ano de vida do Padrinho Sebastião Mota, onde se originou, durante um trabalho na floresta, com Ayahuasca,  a inspiração da sua obra relacionada com o  Labirinto Evolutivo.

Esta é a minha última novela em processo. Parece já bastante acabada, mas quando algo parece bastante acabado é o bom momento para meter-lhe o ferro à fundo e tirar a nova estátua, bem mais surpreendente e convincente, se fpossível for, de adentro da velha estátua, por méio de uma deconstucción implacável. CLIQUE NA IMAGEM PARA LER UMA SINOPSIS DA OBRA, NESTE JUSTO MOMENTO DE SEU PROCESSO. (Final de Abril 2018)




   



AVANCE "LIVRO DO LABIRINTO PERSONALIZADO"

     


Unidade Básica do holograma: INSTALAÇÃO "LABIRINTO PERSONALIZADO"


(Como construir uma instalação artística como uma ferramenta de reflexão e síntese sobre o significado da própria vida)


     "Este labirinto -disse o Instrutor-, é uma instalação de arte inspirada nos antigos labirintos de muitas culturas ancestrais. Toda obra de arte é autobiográfica, expressa o que melhor conhecemos e do único que cada um de nós pode falar em profundidade: a caminhada da vida pessoal do artista e sua observação vivente e direta do mundo e das pessoas durante ela.
     
     As melhores obras de arte também são autobiográficas, porém, elas vão um passo além do pessoal, convertem-se em arquetípicas. Isto significa que elas conseguem que a experiência da caminhada de uma pessoa ou personagem determinada vire um modelo que reflexa, inspira e sintetiza a experiência de muitos outros caminhantes.
     
     Nesse sentido, o labirinto é um cenário artístico que envolve como elementos as possibilidades integrais de um sítio natural específico, e serve para ir muito fundo na lembrança e conhecimento dos principais fatos que, ciclo a ciclo, influenciaram a direção do caminho pessoal de vida da pessoa que está interagindo com ele.
      
     Uma vez artistizado o sítio específico, ele converte-se em um grande atelier ao ar livre, um modelo arquetípico do Caminho da Vida em pequena escala, e também em um significante espaço de exposição para fazer e mostrar arte da melhor, arte que, marcando artisticamente os fatos de maior intensidade e aprendizagem vivencial, desenvolve consciência, sintetiza experiências e desenha um roteiro para criar a vida futura do artista ...ou a daquelas pessoas que, posteriormente, desejarem interagir dentro dessa mesma instalação arquetípica, criando nela sua própria obra de arte personalizada."

O Labirinto do Fim do Mundo
  
 "A boa arte não é passiva; pelo contrário, ela estimula uma ação inteligente e criativa ao autor, quem sugere algo, e outra ao espectador, que se ressoa com ela é porque sua sensibilidade impactou-se e sua inteligência compreendeu.

     Pensamos que a melhor arte é uma pergunta que provoca uma resposta, um diálogo enriquecedor, uma comunicação de ida e volta, uma criatividade estimulando outra criatividade.

     Para que o Labirinto seja "sua" obra de arte você não deve simplesmente caminhar ao longo da sua trilha pensando ou meditando; não, você tem que interagir com ele de uma forma criativa, artística"

     "A arte é uma das quatro faces da pirâmide de Sabedoria, as outras três são Ciência, Filosofia e Religião, os ancestrais diziam que as quatro faces parecem muito diferentes na base da pirâmide, mas, chegando ao topo, todas elas viram um. Eles deram o nome de "Alquimia" para a síntese dos quatro modos de conhecimento "

     "O conhecimento é informação adquirida através de métodos ou técnicas. Sabedoria sobre a própria vida requer obter informações, mas isso não é o suficiente, já que a informação deve ser adquirida por experiência própria, por evidência pessoal, por um sentimento profundo sobre sua caminhada interior, e por aguda reflexão sobre o seu próprio caminho na vida, interagindo de forma criativa com ele. Será que você me entendeu, viajante?” -

    -"Eu acho que sim -o Artista respondeu-, as últimas frases que o senhor pronunciou expressam muito bem o meu próprio conceito sobre o sentido e a função da Arte."

    - "Muito bem -o Guardião do Labirinto do Fim do Mundo, disse-, se você entendeu este conceito, meu amigo, vamos falar agora sobre como é que é esta instalação de arte específica, que pretende representar, em uma superfície reduzida, a longa extensão da experiência de seu modo de vida neste grande planeta: "


   "Seu Labirinto personalizado pode ser um caminho de espirais em forma de um oito, rodeado por um jardim que você tem que cultivar para alimentar a si mesmo enquanto você o está construindo, ornado artisticamente com esculturas mais ou menos rústicas que vão ser feitas livremente, à sua própria maneira e estilo, atravessado pelos cursos de água que você achar sobre este sítio e ornado por todas as árvores, frutos e flores que você encontrou aqui, e com todos os que você desejar plantar. "


     "O labirinto é como a vida - o instrutor disse, sorrindo-lhe- Você encontra na frente uma terra e elementos naturais sobre ela, tudo efímero, sujeito a influências caóticas, temporais, inundações, qualquer coisa que cultiva se desordenando e degradando rapidamente ou sendo comida ou afogada pelas pragas ou pelo mato bravo... e você tem que criar, aperfeiçoar  e manter uma ordem material neles, um sistema para alimentar a si mesmo, para poder viver lá o maior tempo possível você e os seus descendentes... e você tem que criar também uma organização mental, para personalizar o seu espaço e para cercar-se de conforto natural e artificial, significação e beleza, de acordo com as exigências pessoais de sua sensibilidade ".

      "O primeiro, então, é a instalação básica do viajante: artistizar um sítio específico, o que significa tirar um espaço natural da sua simples naturalidade e criar artificialmente (mas tentando que não perca a graça da naturalidade), uma organização humana nele, que toma a forma da própria inteligencia e sensibilidade do artista criador. 

     Quando já estiver materialmente instalada a estrutura artística, esta trilha espiralada vai servir-lhe para reconsiderar as sucessivas etapas do seu caminho de vida, aquelas em que se reuniram poder e decisão para ir em busca da realização de seus objetivos principais ... e meditar sobre por que você conseguiu ou não conseguiu realiza-los.
     

     "Com esta reflexão e meditação criativa personalizando cada volta do labirinto, você vai se lembrar claramente, ao longo de cada período de sete anos de sua vida, quais foram as maneiras em que você procede, dentro de suas próprias ações, que o levaram para o sucesso ou o fracasso dos seus objetivos principais nesse período ... ou, mais especificamente, por onde é que esvazia-se sua força, justo quando você precisa mais usá-la bem... "



  


NOTA: Este libro foi composto como um manual de uso do “LABIRINTO PERSONALIZADO”
Convida-se, a quem se interessar, a ler completo o romance

Manuel Castelin
www.castelinliterario.blogspot.com

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

AVANCE VIAJE DE ORFEO AL FIN DEL MUNDO


VIAJE DE ORFEO
AL FIN DEL MUNDO


El país de los muertos

Portada: “Grial de la tarde”


Lo único capaz de vencer a la muerte es el amor, que da la vida.


El Viaje de Orfeo al Fin del Mundo es una ficción mítica que transcurre durante el final de la Edad del Bronce y de la Prehistoria, más o menos una generación antes de aquella que fue a la Guerra de Troya y que Homero cantó tres o cuatro siglos después.

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Este viaje recorre todo el viejo Mundo Mediterráneo, desde su extremo oriental, el del Mar Negro, a donde va Orfeo (desde su Tracia natal, al norte de Grecia, paralelo 42º) en busca del Vellocino de Oro, hasta su extremo occidental, Iberia, el País de los Muertos, que atravesará por el Camino de las Estrellas hasta llegar a Finisterre, buscando la entrada de los Infiernos junto al Océano, para pedirle a Hades que le devuelva a su amada esposa Eurídice, muerta el día de la boda.


0-1. LAGUNA DE LOS INFIERNOS

Al poco, lo identificó: era un olor como de carne podrida. Se asomó por la borda y no vio el mar, sino una viscosa niebla burbujeante que parecía rodearles en todo el círculo que el farol iluminaba. La barca estaba como detenida en ella, pues no dejaba estela alguna detrás de sí. Fijándose más, le pareció vislumbrar formas conocidas flotando bajo la niebla.
De repente se estremeció, eran cadáveres, muchos cadáveres flotantes y nauseabundos, el navío se encontraba sobre un mar nocturno de cuerpos sin vida a la deriva, de los que se desprendía un tufo cada vez más patente de vapores de descomposición.
Orfeo sintió un agujero en su vientre y un terrible deseo de vomitar sobre la amura, mas algo en su interior le hizo aguantar y contenerse. Se dirigió al barquero, en busca de una explicación, pero en la popa no había nadie, el timón estaba como bloqueado; se encontraba solo, en medio de ninguna parte, rodeado del asco y del horror. La luz del fanal, en lo alto del mástil, comenzó a hacerse más y más mortecina.
Transcurrió un tiempo interminable en el que se sentía como clavado a su banco en la creciente oscuridad, sin saber lo que hacer. Todo en él seguía deseando vomitar, apagar aquella pesadilla, despertar, pero un aviso interno le decía que no debía disolver y perder su energía, sino coagularla y retenerla, aspirarla hacia arriba, elevarla, afirmarse, resistir, olvidar los terrores de su personalidad centrándose en lo eterno de su Ser, como le habían recomendado el “Hombre del Roble” y Donnon.
Al final, recurrió a las fuerzas de su talento, se dijo a sí mismo que todo aquello eran ilusiones de su mente y que no podía dejar que le arrastraran al pánico; así que decidió repoblarla con un mundo de música dedicada a su amor, para darle luz, ánimo y disciplina.
Sin mirar hacia el horror y haciendo de tripas corazón, rasgueó su lira de modo que brotasen de ella las más alegres escalas de notas, cantó canciones infantiles, tocó las danzas de la molienda y las canciones de fiesta y de boda de los pastores de Tracia, imaginando el brillo de la sonrisa de Eurídice entre los bailarines, siguió por himnos animosos de soldados que se dirigen a la guerra llenos de orgullo por el coraje de su país; se alzó y cantó alabanzas a los héroes, dio golpes con el pie sobre la cubierta, llevando el compás. Poco a poco fue dominando la náusea y el pánico, cerrando los vacíos en las defensas etéricas de su vientre, por donde la energía se escapaba, elevándola al Ser, afirmándose en su propio poder.
Le pareció que su tenaz entusiasmo intensificaba la luz del fanal sobre el mástil y que una leve brisa se erguía, poco a poco, ante él, disipando el olor de la putrefacción envolvente. Le pareció que el navío se movía con suavidad hacia donde suponía el sur, más cuanto más fuerte y con mayor intensidad cantaba. Se vio a sí mismo construyendo su propio camino a base de estrofas, tal como en los días anteriores lo había construido a base de reflexionar sobre las espiras y estaciones del Laberinto del Fin del Mundo.
Se sintió invadido de valor y fue penetrando en la convicción de que toda la fuerza de la vida humana no era sino un impulso cargado de la esperanza de construir la continuidad progresiva de la experiencia sobre un vacío infinito, aunque moldeable por medio de la voluntad que el ánimo pilota.
Su gana hizo que la nave avanzara y avanzara, que el farol brillase ahora como una estrella de constructiva esperanza y que el mar de cuerpos muertos fuese sustituido por aguas libres, relativamente calmas y amables, sobre las que se deslizaba cada vez más veloz.
La nave cortaba la niebla oceánica en su avance, e iba creando a sus costados algo así como un corredor de altos muros de bruma, que el fanal iluminaba hasta cierta altura.
Al compás de su canto, aquellos muros o pantallas fantasmales comenzaron a llenarse de tenues imágenes. Primero se vio a sí mismo como en un gran espejo navegando en aquella barca que nadie dirigía, en medio de la noche, de la niebla y de la nada, camino de no se sabe a dónde, pero después comenzaron a entrecruzarse y enlazarse rápidas imágenes en ráfagas: Orfeo recorriendo el laberinto conscientizador de Donnon, entrando en el país de Gal con los guerreros Brigmil, navegando el Gran Verde con el griego Arron o el fenicio Beleazar.
El bardo se dio cuenta de que el avance del navío al compás de su propia música lo llevaba a contemplar su pasado por ciclos que iban retrocediendo sobre la niebla: con Hércules en Creta, con la pitonisa en Delfos, el enterramiento de Eurídice en el glaciar, la trágica muerte de ella… Su tristeza pareció reducir la velocidad de la navegación, pero volvió a insuflar ánimo a la música y pudo disfrutar de la visión de su amada viva, de sí mismo abrazándola con pasión, de su triunfal regreso de la Cólquide, portando el Vellocino conquistado.
Siguió viendo reflejadas, cada vez más nítidas y rápidas, escenas intensas y entrañables de los años anteriores: la aventura argonauta, sus viajes iniciáticos, la escuela del centauro Quirón... y, sobre todo, el último de sus encuentros íntimos con Eurídice antes de partir a por el Vellocino de Oro.

terça-feira, 1 de março de 2011

A BEBIDA DO PODER


9-A BATALHA DO AMOR

Assim, se cada laborioso dia do Povo de Juramidám destinava-se a assegurar sua vida material, cada noite era uma festa do espírito: ao cair a tarde, todo mundo se fardava de azul e branco, iluminando-se com velas, candís de petróleo ou kerosene ou linternas de gás, e reuniam-se num grande templo octogonal, de paredes abertas ao mato, arrematado seu telhado por uma cruz de dois braços sobre um sol, uma lua e uma estrela -os símbolos da Segunda Vinda de Cristo e dos Logos Pai, Mãe (ou Espírito Santo), e Filho-.

Após ingerir ritualmente o amargo Daime (ou Ayahuasca que significa na língua quéchua dos incas, "Liana dos Espíritos"), a qual demorava menos de uma hora em fazer sentir seus efeitos, cantavam e dançavam em impecável e ordenada formação até o amanhecer, submergidos em trances mais ou menos intensos, compondo com suas geometrias energeticas, movimentos e ritos uma verdadeira máquina mental de geração bipolar, síntese alquímica, condensação, expansão e amplificação da freqüência vibratória pessoal e coletiva, plataforma de projeção potentísima da energia espiritual conjuntada do grupo, que no trance chegava-se a ver como um verdadeiro redemoinho de luz que subia em coluna espiral para o alto, desde o centro do salão.



Já que os homens colocavam-se a um lado da mesa-altar (geralmente centrada por uma estrela de seis pontas e uma cruz patriarcal, de duplo braço horizontal), deslocavam-se para a esquerda em dois passos do seu dançado enquanto cantavam, marcando o ritmo com maracas de lata recheadas de perdigões, e depois retornavam, marcando uma ligeira flexão sobre seu eixo e dois passos para a direita.
O corpo solto, a cintura flexível, deslizando-se suavemente para um lado ou para o outro, a cabeça pendente de um fio invisível que unia o centro da frente do danzante com o Centro do Eu Maior, lá-aqui, no alto de Um Mesmo; os braços marcando o ritmo das maracas, com o punho entrefechado, afirmando marcialmente a energia.

O coração alegre, ligado... a mente, bem consciente do aqui e agora: por uma parte, atentíssima ao compasso e à perfeita ordem cerimonial coletiva sobre a terra; por outra, completamente entregada, de forma individual e subjetiva, à prece e à “miração”, ou visão interior. As mulheres, ao outro lado da mesa, dançavam em sentido contrário aos homens; e, em ambas cabeceiras, mozos solteros em uma e donzelas em outra, completavam a Roda Chamánica geradora de Energia Dinâmica Básica, que toda a noite se movia.

Junto ao Cruzeiro costumava-se pôr um vaso de belas flores tropicais; sobre a mesa havia, também, imagens e fotografias enmarcadas de Jesús, de María e do Mestre Irineu; e um par de copos para quem sentisse sede, ainda que poucos tomavam mais de um sorvo, porque a água, igual que a comida, dilui e rebaixa a Força da Bebida Sagrada para "mirar" no Astral.

O Daime dispunha-se, geralmente, sobre outra mesa menor, apoiada na parede, bem em garrafas de vidro verde ou bem num grande cálice-cisterna de cerâmica branca provisto de torneira, desde onde o responsável pelo trabalho servia-o sacramentalmente à cada um, como a Sagrada Eucaristía com a que todos comungávamos, bem em cálice ou copo de vidro, e umas três vezes como méia ao longo do himnario. O comandante ou diretor da sessão olhava profundamente aos olhos à cada participante que se achegava em fila a comungar, a fim de calibrar intuitivamente a dose que lhe correspondia, segundo como sentisse seu estado emocional.

Falava-se muito pouco -a voz mal se fez para cantar, diziam-, além de que o Daime facilita uma comunicação telepática muito profunda. De fato, quando um olhava a outro aos olhos parecia ver-lhe a alma, ainda que cada quem estava, em realidade, tão só concentrado na viagem da sua própria mente, envolvido em seu próprio processo interno e muito sensível, por causa do qual, quando era preciso comunicar-se diretamente com alguem usando palavras, isso devia fazer-se com fraternal delicadeza e ton de respeito e suavidade, para que ninguém se sentisse invadido.


Os fiscais designados para assistir a todo aquele que o precisar na sessão, cada um atendendo aos do seu próprio sexo, encarregavam-se ademais de preservar uma forte disciplina e uma ordem hierárquica muito formal, quase militar (os seguidores do Padrinho Sebastião se autodenominavam "guerreiros" e "guerreiras" do Santo Daime, com perfeito direito). Essa ordem, as vezes, sentia-se agressiva e até ofensiva para os sensibilizados novatos que eram chamados à atenção. Em verdade, o trabalho de fiscal, era bem ingrato, porém, absolutamente necessário, para ajudar a manter o adequado movimento geométrico da energia num coletivo numeroso... e deveria confiar-se somente à gente mais veterana, responsável, discreta e cheia de amor e tacto, mas não sempre era possível faze-lo assim e com freqüência era labor que correspondia aos fardados mais jovens.

Naquele tempo, em Mapiá, tanto os fiscais como os guerreiros que um tinha aos lados, reprendían, às vezes muito rudemente (ou assim o sentiam nossos egos), a quem, tal como os novatos ou visitantes, cometiam erros no movimento rítmico, erros que pudessem interferir na fluência da energia, que se tinha que gerar de maneira perfeita.

A condição fundamental para que se te permitisse participar no ritual, era que te comprometesses a um esforço de autocontrol consciênte que te fizesse capaz de estar simultaneamente no Céu e na Terra, colocando a mesma concentração e tentando fazer tudo perfeito, tanto no lugar sagrado como no trabalho quotidiano.
Isto é, desfrutando intensamente do êxtase místico provocado pela bebida de poder, e atentíssimo, por outra parte, a não desentoar com tua distração, da harmonia sinérgica do ritual grupal no templo. Porque tinha-se que "assegurar o trabalho", ou seja, afinar-se com a impecável ordem rítmica da música e do dançado, o que era a única maneira de assegurar, também, um mínimo de ritmo e ordem mental interna com a qual navegar em conjunto, coletiva e individualmente, sobre as tempestosas ondas e correntezas do oceano subconsciente, emocionalmente desbordado.
O trabalho de grupo consistia, fundamentalmente, em rezar cantando, decretando em cada hino, com toda firmeza, a auto-lembrança e tomada de consciência, a transmutação positiva e a elevação dos espíritos da Humanidade, tanto encarnados como desencarnados (despoluir o astral do planeta, diziam).
Para isso começavam embriagando com aquela poderosísima brebajem ao ego cão-cerbero da razão, a fim de submete-lo, fazendo-lhe enfrentar-se clarividentemente com a sua negrura interna, para a qual, em circunstâncias habituais mais confortáveis para ele, jamais quer nem olhar.

Quaisquer palavra dos hinos que tocava ao vôo uma fibra da nossa sensibilidade, enchia-nos de sugestões exploratórias da consciência e também de ânimo para se enfrentar a elas, superando os bloqueios e resistências do ego, que estava aterrorizado pela vertigem da desintegração dos esquemas por ele estabelecidos como "normalidade", os quais, até então, eram a única falsa segurança que lhe sustentava.

O ego estava agoniado, também, ao sentir como os diferentes corpos multidimensionais do seu Ser, libertados das suas encobertações, se desdobrabam e se separavam a toda velocidade da matéria e da mente habitual, geralmente só ocupada na satisfação elementar das necessidades materiais e raramente entregue à prática de tão altos e profundos vôos.

A consciência convencional, um verdadeiro robô ou piloto automático programado para atender, quase exclusivamente, assuntos elementares, encontrava-se, ademais, alucinada, ao perceber que o que tinha-se habituado a considerar como sua conformada identidade, via-se agora reduzida a um fio espiralado e interminável de energia-consciência que percorria em uma dança louca de ritmo desenfreado, já para acima, já para abaixo, dimensões múltiplas e surpreendentes de percepção que já não tinham quase nada a ver com a visão mental corrente e confortável do nosso mundo conhecido, isto é, com o paradigma do sistema escolhido pela personalidade.
Porém, se a atenção concentrada do mais auténtico de um mesmo (convertido em antena alçada), conseguia sobreponer-se à vertigem, se adaptar e afinar à impressionante onda de força que nos arrastrava, e cavalga-la ou surfa-la no possível, o piloto automático esvaecia-se, junto com o seu ritmo lento e seu pânico, alguma porta secreta abria-se em nosso entendimento intuitivo, e a Luz conseguia penetrar nele, irradiando-nos, de repente, com o Conhecimento (ou a lembrança) que devíamos auto-entregar- mos naquela hora.
Depois do reconhecimento lúcido e interno dos erros do navegante da Vida, claramente postos de manifesto, depois da sua contrição hipersensibilizada, depois da sua rendição e autoaceitação, e depois de seu sincero propósito de emenda, perdoando e perdoando-se... o iniciado conseguia a sua re-ligação ao serviço da vontade espiritual do seu próprio Eu Superior, à qual podia comandar já sem traves na totalidade de SI MESMO, expandindo então sua freqüência vibratoria e sentindo-se, ao faze-lo, entusiasticamente colmado pela Força invocada na cerimônia.
...A qual, respondendo ao chamado grupal, tinha iluminado cada consciência com a Presença do Eu Divino, que agora se manifestava com todas suas potências sobre o seu trono carnal, depois de ter ajudado ao eu individual ou Anjo Guardião do veículo humano a se libertar de imundícias de baixa vibração energética, que antes o acobertavam e incapacitaban, como canal, para receber dignamente a seu Senhor Cósmico.
Uma vez abertas de par em par as portas umbralinas que comunicam o consciente com o subconsciente e o superconsciente [††], uma vez barrida a sujieira astral amortecente e apurado e fortificado o seu interior, o participante tendia a se dedicar, igual que os aficionados às drogas comuns, à psiconáutica, ou seja, à gozosa exploração errante, hipersensível, livre e sem tempo, dos países maravilhosos da mente profunda e de seus aparentes habitantes, tão percevíveis agora como os fantasmas e devaneios de um bébado. Podería passar assim todo o resto da sessão até a Força descer. Porém, toda a disciplina do Santo Daime, a marcial e participante ordem do seu ritual e as instruções dos hinos, o instavão a que não se demorasse demasiado tempo recreando-se em inúteis vagabundagens esteticistas e egocéntricas pelo universo das muantes formas-pensamento da Memória Subconsciente e Coletiva da Espécie, puro desfile repetitivo e autocompracente das suas lembranças acumuladas,que só conduz ao desenvolvimento da mais vã e esclavizadora das fantasias, tal como se um meditador, em lugar de se esvaziar de imagens para sentir a realidade do seu Ser, se entretivesse com cada um dos envoltósrios mentais, a maioria vazios de idéias, que continuamente passam numa corrente contínua de ondas automáticas ante a sua antena.
A coisa consistia, pelo contrário, em que o Daimista, de forma ativa e não passiva, aproveitasse a sessão, usando a sua vontade de estudar-se de uma maneira consciente e profunda, descobrindo e assumindo suas eternas potências divinais, e tomando contato direto com as entidades espirituais que, desde sempre, tinham sido seus guias e aliados, a fim de que pudesse actuar junto com eles de forma construtiva, ...E como? ...Projetando, através desses arquetipos pluridimensionais de si mesmo, seu Verbo Criador sobre o mundo, multiplicando seus poderes ao sincronizarlos com os de todo o grupo de guerreiros e guerreiras, e os dirigindo ao mesmo objetivo ordenadamente, pelo seguro cauce dos hinos, convertidos todos juntos em um faz de limpos canais de resonância e ancoragem do Plano Evolutivo Cósmico sobre as energias essenciais de todos os seres do Plano Terrestre, tanto físico-material como astral.
E, de alguma maneira, todos tínhamos a evidência em nosso interior de que o trabalho que se estava desenvolvendo modificaria realmente nossa vida e nosso mundo, e até influiria sobre microuniversos subordinados à nossa identidade individual que nem sequer estavam completamente formados em todos os planos do Ser.
Já que todo está contido dentro de tudo, o Universo Multidimensional em nosso coração e viciversa, cada buraco negro esvaziando um universo dentro de outro, como sugerem os físicos quánticos. Sendo mental o Universo, todo ele cabe em um conceito que pode se reduzir ou se ampliar, se concentrar ou se dispersar até o infinito.


10- OS HINOS SAGRADOS

As esforçadas tarefas do dia asseguravam a sobrevivência física aos membros da Comunidade, mas isto não era senão a condição elementar básica que lhes permitia desenvolver seu verdadeiro trabalho mágico de guerreiros templários de ambos sexos:
Suas vozes vibrantes enchiam a atmosfera noturna -o corpo emocional ou astral do planeta, que pela noite se encontra em fase onírica e em vibração Alfa totalmente receptiva- de potentes hinos religiosos, que formavam uma egrégora (condensação mental coletiva) de limpeza, auto-consciência e amor, encaminhada a descontaminar a aura da Terra e as dos seus seres, das venenosas formas-pensamento negativas de desesperança, desalento, pesimismo, medo ou maldade, e de todas as energias demoníacas emitidas pela Humanidade inconsciênte e doente durante o dia, a fim de transmuta-las em vibrações angélicas que reforçassem as virtudes com as que cada espírito humano foi dotado para cumprir seu destino cósmico, como indivíduo e como Espécie, como célula e como órgão do Planeta.
A totalidade dos hinos tinha sido recebida pelos participantes no trance provocado pela Ayahuasca e, ainda que suas letras possam parecer, numa primeira escuta, simplonería camponesa, eram consideradas como vibraciones sagradas, procedentes da esfera dos Guias Supraconsciêntes, com grande poder para transformar e corrigir o nível emocional mais próximo ao físico das pessoas -seu baixo astral subconsciente- onde se encontram as raízes e traumas dos hábitos negativos.
Este é um nível de pura vibração energética suja, envilecida, diabolizada, onde se prendem os espíritos obssesores afins a nossas vibraciones mais baixas, se a gente não é cuidadosa e atenta com o seu alimento emocional e mental, e com sua limpeza psíquica quotidiana.
A elevada vibração dos hinos atua como exorcismo, libertando a nossas potências básicas das larvas astrais que pudessem se achar vampirizando as nossas energias, as quais, ao se purificar, convertem-se de novo nas virtudes originais ou divinais do espírito; isto é, em nosso próprio Eu Astral e em seus aliados: anjos, mestres e guias internos.
...Posso falar deste poder de transmutação dos hinos, porque experimentei-o pessoalmente de forma entranhável e bem evidente: a noite anterior ao meu embarque pára Mapiá, no povoado de Boca de Acre, simpaticei com um chamán curador a quem chamavam Senhor Marirí, quem utilizava a Ayahuasca fora da férrea disciplina do Daime. Seu Marirí tinha-me convidado a uma ingestião da bebida preparada por ele, junto com outras pessoas que também estavam esperando para navegar.
No meio do trabalho foi chamado para atender a um doente grave, e teve que nos deixar, confiando a dois jovens guerreiros do Padrinho Sebastião o fechamento da sessão. No entanto, eu tinha me elevado tanto, quepercebi que meu poder mental era capaz de influenciar e até dirigir a psique daqueles jovens camponeses, de modo que, experimentando aquela Forçcada vez com mais ousadia, fui lhes obriguando, só com o pensamento, a prolongar a sessão e a ingerir mais e mais Ayahuasca, até que me senti possuído por todos os meus demônios subconscientes e dominando aos demais, que corriam como hipnotizados ao redor da fogueira e seguindo-me, enquanto eu ria interiormente, ébrio de poder, convertido no Grande Manipulador...
Não sei em que tería acabado aquele aquelarre descontrolado se de repente não tivesse parado um automóvel ante a valha do quintal onde encontrávamo-nos e não descesse dele meu iniciador, Chico Correntes, que havia conduzido toda a tarde e parte da noite pela pista de terra desde o lonxano Rio Branco, para chegar "casual" e providencialmente naquele mesmo momento.
Passou ao quintal, plantou-se de pié junto à porta e começou a cantar hinos. Desde meu trance, eu "mirava" as vibrações que saíam da sua boca como serpentes de fogo que voavam, enrolaban-se ao redor de mim e me encorrentavam, imovilizando ao Lúcifer em que as minhas energias mais baixas se tinham transformado e que dominava todo o meu ser. Um a um, seus hinos converteram-se em correntes energéticas que me atraram e submeteram totalmente, dobrado em terra; começando depois a actuar sobre a minha emocionalidad profunda, removendo-a e transformando-a na mesma medida em que meu diabo principal, vencido, aceitava se render.
Acabei chorando embarrado no chão, profundamente arrependido e sentindo que recuperava o melhor de mim, depois da frenética tormenta. Correntes (outra apropriada “casualidade” aquele sobrenome) voltou-se aos jovens, que se tinham tranqüilizado assim que ele aparecera, e disse: -"Este garoto salva-se".- depois fechou ritualmente a sessão, ordenou que me dessem uma ducha, me vestissem com roupa limpa e me levassem a durmir.
Eu estava feito pó, mas muito aliviado, e assim que pude descansar no meu sleeping, começei a ter visões vividamente sentidas; e eram todas como fragmentos de vidas passadas, marcadas pela indisciplina, a rebeldia, a desatenção e a arrogante competitividade... primeiro entre os hebreus do Éxodo que seguíamos a Moisés para a Terra Prometida, mas duvidando dele e nos rebelando contra sua intuitiva autoridade cada vez que podíamos; depois entre o mesmo povo, recebendo a Jesús com vítores de esperança em Jerusalém, para, dias depois, rapidamente decepcionados e passados ao outro extremo do pré-julgamento, vociferar ante Pilatos pedindo a crucifixão daquele impostor...
Mais tarde, via-me no final das Cruzadas, defendendo empecinadamente, junto com outros camaradas, o último bastião cristão em Palestina, ao que chamávamos Saõ João de Acre (“casualmente” me encontrava agora em Boca de Acre, no estado brasileiro de Acre); minada e derrubada sobre a gente a muralha que nos protegía, os guerreiros muçulmanos nos desbordavan e rodeavam como uma inundação; eu lutava e lutava à desesperada, vestido com uma espécie de saiote negro sobre uma túnica branca, que levava cosida uma cruz vermelha de braços iguais no peito.
A minha direita, ví cair ao meu companheiro traspassado e, nesse momento de desatenção, fuí traspassado também. Meu matador fez um gesto como de socarrona desculpa ao arrincar seu aço do meu corpo, e então fixei-me no seu rosto enquanto caía... que “casualmente”, era o vivo retrato de Chico Correntes...
Na minha ultima visão em trance, ví meu corpo e os de todos meus companheiros atados pelos inimigos em cruzes ao redor de todo o perímetro de ruínas fumegantes da última fortaleza Cristã re-conquistada pelos sarracenos na Terra Santa.

Bastante antes do amanhecer acordaram-nos, e embarcamos para Mapiá: Quando a alvorada iiuminou o barroso rio Purús pelo qual navegavamos, pude ver as roupas com que alguem tivera a amabilidade de me vestir aquella noite, na escuridão e depois da ducha, ao não encontrar as minhas: um short negro e uma camiseta da Previdência Brasileira com a Cruz Vermelha estampada sobre o peito, “casualmente” as mesmas cores e signos que cobriam-me em minha visão da queda de San Jõao de Acre, três horas antes...

Ainda encontrei outras “casualidades”naquela aventura: muita gente, em Mapiá, comentava convencidamente que o Padrinho Sebastião era uma reencarnação de Saõ João Batista, o anunciador de Cristo nas margems do rio Jordão, e disso falavam muitos hinos. E quando pela primeira vez vislumbrei o templo da aldeia daimista, octogonal, como os dos templarios, coroada pelos seus três símbolos (a cruz cristã, a medialua islâmica e a estrela judia), veio de repente à minha mente que mais uma vez nos encontravamos os velhos amigos e inimigos, repetendo durante séculos o mesmo drama, a mesma disputa egocéntrica de poder, sobre a mesma Terra Santa. Seria que por fim poderíamos reconciliar-mos, descobrir ao irmão, o amigo e o mestre no aparente competidor e cumprir em harmonia a missão para a que fomos emanados?



...Retornando sobre os hinos: todo mundo concordava em que cada palavra daquelas estrofas tão simples tinha, no entanto, a oportunidade de se converter em mensagem subliminar que, no meio do trance, puxava de toda uma corrente de reflexões profundas que davam, outra vez “casualmente”, a resposta consciente que nesse momento mais precisava o iniciado para aclararse. Os clarividentes podiam vê-los, diziam, como sons mántricos   luminosos; alguns, inclusive, como anjos sonoros, que avivavan por resonância as auras dos chakras etéricos humanos, aumentando a sensibilidade de suas percepciones subtís... Penetrou-me como nemhúm um hino que parecia-me um dos mais emblemáticos da Comunidade:
" Sol, Lua, Estrela, a terra, o vento, o mar,
e a luz do firmamento, isso é que devo amar,
isso é que devo amar, trago sempre na lembrança
a Deus que está no Céu, onde está a minha esperança..."

Os guerreiros daimistas continham seu impulso em paciente e atenta escuta e permitiam que as guerreiras mais ousadas e seguras de si mesmas fossem as primeiras em "puxar" o canto de todos: a comandanta, ou aquela das mulheres que o soubesse melhor, iniciava com brío a primeira estrofa de cada hino, e os homens, seguido, adaptavam seu tom ao delas na repetição, de tal maneira que jamais as fortes vozes masculinas as adiantassem, tampassem ou opacassem, já que só quando a mulher se afirma no seu ánimus, no seu impulso viril, vigorizándose, e o homem na sua ánima, no seu feminino interno, suavizando-se, se consegue que ambos sexos equilibrem a sua vibração em uma alquimia sintetizadora na que o Verbo Humano atinge o auge do seu poder criador; convertendo -se então um grupo de humanos assim de bem complementados e afinados, em um coro de anjos encarnados, pulidos canais de transmissão das virtudes do Ser, desde e para as todas Suas dimensões.
Os participantes na sessão, alertas ao ritmo marcado pelas puxadoras, que era imediatamente seguido pelo passo e as maracas dos comanantes, cada um composto no seu lugar em ordenada relação, perfeitamente enquadrados e sincronizados na corrente bipolar de crescente energia dinâmica, colocando muito sentimento no   que cantavam... permaneciam tão atentos, interiormente, ao diálogo particular com seu Mestre Interno - acompanhado de visões muito intensas que denominavam "miraciones" -(olhar dentro de um mesmo)-, como externamente, ao mantimento da marcial coesão e da harmónica disciplina do coletivo guerreiro que cantava com entusiasmo; firmes todos no seu Combate do Amor, indudável transformador da negatividade do Astral, fazendo seu dançado e marcando o ritmo elegante e bravamente com maracas metálicas e redobres de bongós. Também costumava haver um violonista, um baixo, algumas bandolinas e cavaquiños e, mais raramente naquele tempo, acordeão e frauta.
Para quem se interessar pela análise formal da música, estas são as notas transcritas por meu amigo, o artista e internacionalmente prestigioso professor catalão de guitarra Gabriel Rosales, depois de escutar uma fita de hinos que lhe passei:
-"Melodia diatónica 1,3,5, com escala predominante pentatónica 1-2-3-5-6-8 (graus da escala, Do-Re-Mi- Sol-La-Do), intervalo de início (quarta justa) -efeito conclusivo-; estrutura: A/motivo---; B/motivo---contramotivo. As seqüências melódicas repetem-se também na sua forma rítmica...
Música fundamentalmente afirmativa, ingênua, busca a harmonia (com intervalos puros, perfeitos), e a limpeza espiritual, com uma monotonia que provoca introspecção, um dar voltas sobre si mesmo sem resposta, e sempre presente ao fundo o concerto animal da selva; há uma tendência geral a ir aumentando a velocidade para os finais, o que cria tensão psíquica, expectação e entusiasmo... O ritmo tem influências do merengue, a habanera, a conga, velhas músicas populares portuguesas-pernambucanas e algo de andino na frauta.-"
Era espléndido o espetáculo de duzentas ou duzentas cinquenta pessoas vestidas igual, evoluindo em balanço em perfeitas formações, e cantando hinos no salão em forma de estrela do Templo, cada um bem composto no seu lugar, armados de maracas e de todo tipo de instrumentos musicais, especialmente nas grandes festas cristãs e nas dos seus padroeiros principais, São João (que representava ao Sol, à Masculinidad Pura), Nossa Senhora da Concepção (arquétipo da Feminidade Divina, a Lua), Sáo Sebastião...



Durante elas, todos se vestiam cuidadosamente de gala na suas casas e iam, percorrendo descalzos, para não embarrar os zapatos, as trilhas enlamadas pela chuva tropical que cruzavam o mato. Vinham as mulheres vadeando os caminhos, com as saias arremangadas e o seu hatilho (pacote de roupa) ao braço, mas tão nobres e elegantes como correspondia a quem em verdade dirigiam-se a uma festa de corte do Celeste Império, pela Divinidade Mesma presidida.
Os homens iam todos de branco, com jaqueta e gravata azul escura, marcando o passo virilmente, mas sem a menor rigidez. As mulheres, de todas as idades, eram as flores silvestres do Jardim Do Daime: meninas belísimas ornando com seu dançado a cabeceira da mesa, tais como anjos em coro; jovens amazonas de longos cabelos ondulados na idade em que todos os encantos erupçõam inconteníveis; femininas e majestosas panteras às que parecia que sobrasse qualquer vestido, salvo sua pele dourada multiracial, perfumada pelo sol, pela água do igarapé e pelos verdes aromas naturais; tão serias e castas, no entanto, em seu aspeto, como frescamente soltas e sensuais.
Nas primeiras fileiras, dançavam no templo as guerreiras florescidas, destellantes de determinação seus rostos leoninos, competindo as mais bravas por lançar-se a puxar um hino a toda voz antes que ninguém e por sustenta-lo, sozinhas, no tom adequado, até que todos as seguissem; outras, algo mais maduras, eram mães de seus filhos e madrinhas do mundo, de uma dignidade impressionante, a que dá o mais abnegado amor familiar e quotidiano estendido a todos. Destacavam, por fim, as idosas druidesas de brancas cabeleiras, com tal doce firmeza e profundidade nos seus rostos, marcados pela aventura da vida e pelo conhecimento da sua experiência, que só olha-las movia ao maior respeito.
...E cada uma levava sobre a saia, cobrindo os seus quadrís como uma protecção acrescentada, uma espécie de sobre- sayinha verde plisada, com tirantes diagonais -a moda intemporal do mato- e, sobre a cabeça, uma coroa de rainha que elas mesmas tinham- se feito na Oficina de Costura da Comunidade com arames e lentejuelas brilhantes. Todos os fardados (que assim se chamam as pessoas comprometidas com a Doutrina) levavam uma estrela de seis pontas ao peito, signo de filiação divina, equilíbrio e conexão e, dentro dela, a lua crescente da Virgem Mãe e a Águia Solar de altos vôos que qualquer daimista tinha que chegar a ser.
Era espléndido quando, ao terminar um hino que nos tinha elevado a todos, os homens prorrumpían ordenadamente numa enérgica salva de vivas ao Pai Eterno, à Rainha da Floresta, ao Celeste Império, ao Mestre Irineu, ao Padrinho Sebastião e a todos os irmãos... O último viva dedicava-se ao Santo Cruceiro, e todo o salão ficava vibrando. Era espléndido oir a todo aquele povo cantar alegremente "parabems pra voçê" quando se celebrava o aniversário de alguém ou, simplesmente, quando se via que alguém tinha renacido depois de um profundo trabalho de cura... Era espléndido quando, no meio do himnario, a vibração sincrónica se harmonizaba tão bem e com tanta força, criando um astral intensísimo, que todos nos olhávamos com um sorriso feliz e camarada, nos amando uns a outros e a nós mesmos.
Ainda que pareça aos nossos sentidos externos que luz e som são duas coisas diferentes, a verdade é que no trance do Daime, eu percebicada um dos hinos como uma unica onda contínua e ondulante de energia, carregada de informação sonoro-lumínica, com grande poder para nos fazer consciêntes, ainda que isto é subjetivo e ignoro se outros teriam visões semelhantes, porque cada mente tem seus próprios códigos captadores ou emissores de informação. Tenho visto, inclusive, na miração, como o som se geometrizava em estruturas luminosas carregadas de códigos de informação, que nosso subconsciente entende muito bem, sobretudo se tem cultivado antes um pouco sua sensibilidade de percepção artística.
Nas sessões de cura, ademais, pude "mirar", nos gloriosos momentos de melhores percepções astrais, como os hinos iam pouco a pouco re-ordenando os alinhamentos moleculares de um órgão doente, ou seja, desafinado, e o faziam de forma semelhante a como se afina a corda destemperada de uma guitarra, comparando seu som com o que emite outra bem temperada, e fazendo-a ressoar por simpatia. Nos momentos em que captavamos que o doente ficava aceitablemente re- harmonizado, costumava-se arrematar o hino com um alegre "Viva a Saúde!" que era coreado por todos.
Compreendi perfeitamente, então, aquilo de “No princípio era o Verbo”, e que todos os mundos manifestados não são outra coisa que bem harmonizadas sinfonías. Quem não segue o compasso do Cosmos, adoece. Os himnarios eram uma extraordinária escola de harmonização coletiva, onde o som se produzia da mais poderosa maneira: movendo-se ritmicamente em um círculo bipolar, que encauzava as emoções grupais exaltadas pela Ayahuasca numa única freqüência expansiva.
Através daqueles cánticos re-potenciadores, a mente individual liga, por afinada resonància ascendente, com a Oitava Superior onde vibra a freqüência da Mente Coletiva, e recebe Dela os seus tesouros de sabedoria, servidos em recipentes dourados, ainda que não sempre doçes, de puro sentimento.
Quem canta, eleva automaticamente a intensidade da sua vibração; quem canta ligado, eleva-a às alturas onde o Eu ressoa harmonicamente com todos os seus corpos. O cántico litúrgico é uma chave multidimensional que une nossos sete chakras corporais com aqueles outros cinco do Eu Total Que Somos, que estão situados fora do acúmulo de energia ao que costumamos chamar nosso corpo individual.
O mais alto a que podemos aspirar enquanto ainda permanecemos encarnados, é a nos converter em um bom instrumento musical através do qual as Sinfonias do Ser derramem-se como bênçãos e bálsamos sobre o Plano Físico e sobre seus povoadores.
A Ayahuasca é poderosa, mas os hinos, ainda sem Ayahuasca, são tão poderosos como ela, especialmente alguns, que são chamadas invocatórias à manifestação de imponentes Forças do Astral sobre nós.
O som pode fazer vibrar os compoêntes ínfimos de qualquer coisa, que, em última instância, não são senão fotones bipolares em movimento, alternándose de forma ordenada sobre uma estructuração rítmica geometricamente sonora. Assim se vé em trance o momento mágico em que as ondas de energia-consciência começam a se transformar em matéria, aparentemente bem sólida.
...Da mesma maneira que um repentino som muito intenso é capaz de alterar a estrutura vibrátil (sonora) que mantém a coesão estrutural de um vidro e o fazer pedaços, assim um cántico sacro tem potência para penetrar entre os tecidos e os neurônios, desfazer bloqueios, re-organizar grupos de células cancerígenas (ou seja, desordenadas e desordeiras), e abrir ocos onde possam se armazenar ou condensar novas informações que serão sementes de transformação evolutiva.
A Física Contemporânea já tem chegado a demonstrar o que os chamães e as Escolas de Mistério conheciam há mais de três mil anos: que o universo manifestado é puro som congelado, que a estructuração do átomo -que converte as ondas mentais lumínico-sonoras em partículas materiais- obedece às mesmas proporções numéricas que os princípios harmónicos que convertem ao som em música.
Os cánticos sagrados têm sido usados como terapia reorganizadora, equilibradora e harmonizadora de todos os nossos corpos desde a Prehistória. Igual que o átomo, e cada uma de nossas células, é uma caixa de resonância. Cada um dos nossos órgãos ou dimensões da consciência é, também, um conjunto de vibrações que se mantêm em estrutura comum porque ressoam sincrónicamente numa freqüência específica, e que serve de degrau para um plano ou andar determinado de nosso Ser. A evolução consiste em ir ascendendo a planos cada vez mais subtis da nossa própria Identidade, ao mesmotempo em que vamos integrando amorosamente as freqüências mais baixas e densas antes percorridas, numa escala de harmónicos perfeitamente conhecida, ordenada, e já controlada, sem esforço algum, naturalmente.
Nós, os Seres ( as unidades do Ser de qualquer dimensão, de qualquer reino) somos, essencialmente, energias. Isso não significa que sejamos um conjunto de tantos ou quantos quilos, ou watios, ou o que seja, de uma substância determinada; significa, mas bem, que nossa atividade vital emite, produz, emana, ondas de maior ou menor poder perceptivo, que se dirigem para aquilo que é objeto de nossa atenção, o varrem, como faz um laser ou um radar, e rebotan; voltando essas ondas a nós com uma série de informações obtidas.
Também podemos nos projetar: eu quero escrever no meu computador a letra "A": para isso percebo em que lugar está a tecla correspondente com minha atenção perceptiva; quando já estou seguro, lanço um impulso sobre a tecla com precisão, com atenção proyectiva, e esse impulso, traduzido por todo o complexo processo funcional do computador, converte-se numa "A" escrita sobre a tela.
Agora bem, para pulsar a tecla tenho usado energia mental inteletual e energia física, mas se a "A" faz parte de um poema de amor á minha dama, estou empregando também energia emocional, e se no poema digo que, através do amor da minha dama, o meu amor se estende a todo quanto existe, minha energia emocional elevou-se e se converteu em alguma forma de energia espiritual. Estas são metáforas para nos entender, já que realmente, toda a energia é Uma no Cosmos, e ela ri destas classificações humanas tão relativas.
A energia é uma, mas ela vibra em freqüências diferentes, segundo estejamos, por exemplo, percebendo ou projetando sobre um problema mecânico, enquanto arranjamos um motor, ou percebendo e projetando em estado de contemplação, enquanto agradezemos pela Vida ao amanhecer. No primeiro caso a energia concentra-se, contrai-se, penetra numa parcela concreta do mundo denso da matéria e das suas leis, vibra com certa lentidão, actua de forma metódica e lógica, de acordo com o que aprendeu previamente que é correto fazer, sobre um objeto bem determinado, e processa no cérebro através do hemisfério esquerdo, que se encarrega, preferencialmente, do pensamento deductivo, analítico, diferenciador.
No segundo caso, no entanto, a energia se expande, se descontrae, vibra a grande velocidade, abrange um âmbito mental amplísimo... (de fato, sem limite algum, no qual cabem, no mesmo espaço conceitual, todos os seres), atua sentimental e espontaneamente de maneira criativa, e processa através do hemisfério direito, que é associativo, unificador, mais intuitivo que lógico.
Contrair-se e expandir-se são os dois direccionamentos fundamentais da nossa energia dentro da infinita escala de manifestações do Ser que Somos. O equilíbrio em tensão entre contração e expansão faz que as formas nas que envolvemos nossa consciência -nossos diversos corpos densos e subtis- permaneçam unidos numa estrutura. Sem esse jogo de opostos complementando-se, os milhões de entidades que nos compõem desintegrarían-se e se dissolveriam.
A Energia-Consciência Universal não é outra coisa, á luz da miração, que a vibração que emitimos todos os Seres Divinos ao vibrar conjunta e afinadamente e ao nos relacionar através de todas as dimensões de manifestação do Ser Unico. Vem a ser como a sinfonía que cantariamos todos se todos entoássemos como anjos, isto é, perfeitamente compenetrados no maior amor, e perfeitamente atentos uns a outros. Como para fazer isso se precisa um estado de consciência expandida, podemos supor que a chamada "Música das Esferas" é a freqüência de onda emitida pelos Seres Unificados... os demais, simplesmente, desafinamos. Sorte que também não se nos ouve demasiado.

Os defeitos do ser humano ou paixões do ego chamados pecados capitais: ira, sobérba, concorrência invejosa e ciumenta, avarícia acaparadora, medos, dúvidas, desconfianças, glotonería, ambição vehemente ou indolencia apática, não são outra coisa que desequilíbrios da energia, polarizações para os extremos, os quais produzem, em primeiro lugar, contração da freqüência, maior lentidão da sua onda, densificação e materialização. E, em segundo, separação e desafinação com respeito à tónica da sinfonía do conjunto de seres que somos; perda de qualidade de consciência, rebaixamento da nossa atenção, e com ele, diminuição do nosso controle sobre a própria situação e diminuição de nossas percepciones e defesas, o que facilita, como conseqüência, uma abertura à doença.
Cada um dos planos de nosso Ser que temos conseguido harmonizar, significa um esforço prévio -o Bom Combate do Guerreiro ou da Amazona Espiritual- por desbravar as tendências caóticas das energias que nos conformam (a entropia) e por afinar entre si aos egos que as regem, após fazer-lhes se submeter e adaptar à direção da comandância unificada do Eu Sagrado, quem sempre tem um único propósito: a elevação comum do conjunto de indivíduos que se comprometeram a seguir a disciplina. O Eu Sagrado não admite desordem caótico, nem desvios do ritmo marcado, nem presumidos que desejem destacar em base a apagar ou opacar aos demais, nem cobiçosos que acumulem mais energia da que lhes corresponde, nem covardes ou tímidos que queiram se ocultar ou ficar atrás ou não participar.

Os himnarios do Povo de Juramidám são uma Escola onde a célula aprende a servir afinadamente ao órgão e a vibrar sincrónicamente com ele... por isso se diz que o Daime consegue curar a cancerosos que já foram sentenciados por todos os médicos.
A maior participação na harmonia comum, mais energia e mais rápida sua manifestação no indivíduo; a menor participação, por contração no ego e por afastamento, menor e mais lenta energia, acompanhada de apagões de consciência. Qualquer ritual coletivo, e muito especialmente os do Santo Daime, é uma festa que tem por motivo nos comunicar intimamente e alquímicamente com seio de nosso Eu Mais Elevado e dentro dele, expandirnos conjuntamente para Ele nas asas do Amor, a alegria e a lucidez, e nos carregar da mais alta energia que temos conseguido compor juntos... isto é, a gente, sumada às nossas "relações astrais" (sinergia transdimensional).
Sã evolução significa consciente, firme e constante pulimiento e equilibração harmonizadora para dês-velar o Ser que sempre estã aí com todo o seu esplendor, até que essas notas desafinadas ou forças rudes e elementares da nossa base emocional -nossos demônios interiores- transmutam-se nas perfeitamente sincronizadas e sinergizadas virtudes ou sentimentos angélicos do Eu ligado a sua própria Divindade: tolerância, discernimiento, altruísta desinteresse, autenticidade e aceitação própria, criatividade renovadora, conhecimento compreendido pelo coração, corajosa autoconfiança, segura fé, realismo, gratidão, flexível autocontrol, generosidade, auto-soberania impecável, e claro sentido da própria realização ao serviço do conjunto, ou seja, do Todo que Somos.

Visão: No auge de Era de Aquárius, quando a Rede de Nações Planetarias autónomas se encontre por fim unificada por livre vontade de todas as comunidades mantendo-se rica e bem inter-conetada na sua diversidade... quando a Mundialização Positiva, por fim bem pilotada por uma Grande Fraternidade de mentes evoluídas, tenha tomado já uma boa marcha, toda a engenharia construtiva e, por suposto, a curativa e a genética, estarão baseadas no poder estruturador de ondas e moléculas que o som mántrico conscientemente dirigido possui. Para então, o que hoje ainda se chama magia será a ciência convencional do uso construtivo de nosso Verbo Consciênte Criador, bem como a correta canalização harnonica das nossas emoções no som, cujas leis as crianças conhecerão desde a escola primária.

Não quero fechar este capítulo, especialmente dedicado aos hinos sagrados, uma das partes fundamentais da efetividade transformadora do Daime e de qualquer religião, sem consignar que o trabalho sobre as vibrações sonoras que nos conformam essencialmente (o Verbo nos criou) formava também uma parte importantíssima dos ensinos de Carlos Pacini, de quem falei no segundo capítulo, quem, afinal, era músico. Ele escreveu bastante sobre o tema no seu livro "O Sol" que eu traduzi, por pura admiração, ao Espanhol, e que recomendo a quem queira aprofundar no assunto, pois não tem desperdício [§§].
Só apontarei que ele dizia que o homem não pode re-harmonizarse com a Vibração Universal que o emanou se não se põe antes a harmonizar trinamente seus corpos vibracionais (físico, emocional e mental), em base à tónica correspondente ao seu momento atual específico, que tem qa ver com a nota da escala que mais lhe emociona nesse instante. Depois dessa harmonização trina, dava instruções bem técnicas -já que a música é pura matemática- para harmonizarse septenariamente, isto é, para sincronizar as sete freqüências de manifestação de nosso Ser Integral por médio de mantrams bem sentidos; já o fazendo em acorde maior, já em menor, segundo queiramos despregar as potencialidades do nosso masculino ou feminino interno... ou as do equilíbrio entre ambos.
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11- AS MIRAÇÔES

Ouvi uma vez ao Padrinho Sebastião protestando: -"Esses doutores dizem que o Daime só é uma droga que produz alucinações; mas eu pergunto: Que coisa são alucinações?... Luz! Luz do Espírito para acordar à mente aletargada, isso são!-"

As “mirações” ou visões induzidas no trance da Ayahuasca (percepção das puras energias dos planos astrais e sutís e de sua unidade essencial) eram emocionalmente arrebatadoras, porque seu efeito nos hiper-sensibilizava ao máximo, se éramos minimamente sensíveis e receptivos; ainda que eu conheci a muitas pessoas que levavam anos ingerindo Daime e, no entanto, jamais tinham acessado ao privilégio de ter visões internas.

Tratava-se, em geral, de pessoas muito reprimidas, medrosas ou bloqueadas, incapazes de afrouxar o autocontrol e de deixar-se levar ao interior do subconsciênte. Estes irmãos eram os que pior o passavam, porque então toda aquela energia tinha que se aplicar, inteira, à exclusiva tentativa de remover seus bloqueios; o qual supunha uma tremenda batalha no seu ámago, ao longo de toda a sessão, entre a Consciência, querendo mostrar o que estava corrupto ou sujo em tí e os resíduos do teu ego, que teimava na tentativa de afastar desesperadamente a vista.

Para todas estas pessoas, de mentalidade, no fundo, bastante masoquista, o Espírito do Daime era uma espécie de Deus Castigador de corte bíblico que ocupava Seu tempo em penitenciá-los pelos seus pecados. Após sofrer uns momentos, sentiam-se aliviados por ter pago dôr espiritual em troco de suas culpas, mas isso não solucionava as causas do que lhes fazia se sentir culpadas, coisa que não queriam nem considerar; com o qual repetía-se a mesma "pea" subconsciênte, em cada uma das seguintes sessões, até que a pessoa acabava por se acostumar a se sentir a gosto no inferno de seus remorsos ou até que, em um momento de valor, aceitava ver e reconhecer seu negrura abismal, propunha-se sinceramente viver consciênte dela, adoutrinando às partes mais negativas de seu espírito para as corrigir minimamente ou para as manter controladas. Desta forma se libertava da escravizante dependência de suas baixas vibrações ...Puro psicoanálisis chamánico.

Refletindo hoje, muitos anos depois, sobre minha experiência, poderia dizer que nada temos que descobrir de novo em nosso interior, senão re-descobrir, porque eternamente toda a sabedoria divina reside em nosso subconsciênte coletivo, revestida de uma ropagem simbólica de arquétipos que nossa mente traduz ao condicionamento cultural de cada um, para fazer percivíveis em cada momento oportuno suas mensagens à razão; O problema é que também passamos a vida xogando ao profundo poço subconsciênte todos os impatos emocioais de nossos erros e todos os aspetos de nossa realidade pessoal que não coincidem com a "Boa Imagem" de nós mesmos que almejamos manter em fachada.

De modo que todo o trabalho preparatório a nossa realização -ou cumprimento da missão para a qual viemos a este plano- consiste, essencialmente, em nos atrever a descer ao abismo subconsciênte, remover as camadas superficiais de porcariada astral acumulada nesta vida e nas anteriores, dissolver sua negrura com a luz de nosso reconhecimento, e aceitar serenamente que também essas energias demoníacas (por sujas) são nossas, e que temos que trabalhar paciêntemente para as limpar no possível, conscientizá-las e reconvertí-las em nossas virtudes ou poderes divinais ou angélicos.

Naturalmente, enquanto nós vivir numa freqüência vibratória baixa, as sombras predominarão; mas, segundo vamos nos expandindo no Amor, irão ficando mais e mais controladas; e, por fim, ao ascender à freqüências claramente expandidas, nossa Luz e nossa Sombra sintetizarão-se alquimicamente ante nossa Consciência Unitária, já que nela não cabe a dualidade, e elas farão-se Uma de tal jeito, que a consciência dualizada nem pode conceber.

É essa consciência dualizada e contraída a que julga tudo, de acordo a sua relatividade, como bom ou mau. Em Deus não cabe o mau, o que nós conhecemos como o Mau e como a Sombra (assim, como nomes de arquetipos) não são senão aspetos de Sua Justiça que realizam funções necessárias, por destructivas que nos pareçam, e que servem corretamente a Seus desígnios. No Universo tem que ter de tudo, as tentações nos revelam as nossas fraquezas e nos fortificam quando as cortamos com firmeza, e as forças destrutivas eliminam o que nos sobra e facilitam a nossa contínua transformação, que é o que estimula à Mente Eterna a se renovar e se re-vitalizar continuamente.

O mito de Adão e Eva provando o fruto do Conhecimento do Bem e do Mau, significa a descida de uma Mente Unificada, que entende que tudo está bem, (porque nada existe que não seja a relação do Tudo Consigo Mesmo), a outro tipo de qualidade de mente diminuída, na que eu me sento separado do Tudo, o que provoca que, inevitavelmente, surga em mim, num primeiro momento, a desconfiança e o medo para "o Outro" que não controlo, porque não amo, porque sento que "deixei de ser também Isso".

Nessa pugna lógica, mas ilusória, alienada pela angústia, entre o ego e sua entelequia fantasma de “o Inferno, ou a perigosa concurrencia, como O Outro", o ego começa a achar que não tem outra que estabelecer categorias diferenciadas até o extremo: o Bem é todo aquilo que me convém, o mau é todo aquilo que tem que ver com "O Outro", o que suponho meu competidor (Todo o resto do Universo), cujo "bem" diminui meu aterrorizado controle sobre o território mental reduzido que tenho escolhido, cegamente, para me esconder de um Mim Mesmo que em todas partes impera, fora e dentro de mim.

Agora bem, a solução imediata, a saída do terrível estado de isolamento mental que chamamos contração no ego, consiste em expandir-se sobre a boa onda de um ato de amor qualquer, mas necessariamente bem sincero: um ir ao encontro "do Outro", um abrir a guarda e o sorriso, um atrever-se a invitar a dançar a essa beldade, a Pureza, tão formosa que dá demassiado medo achegar a ela nossa impureza, isto é, nossa própria ideia sobre o baixa e féia que se encontra hoje nossa própria vibração, nossa baixa estima...
…Mas não há cuidado, cada vibração só pode se relacionar direitamente com as vibrações afins, já sejam as que residem no seguinte degrau, por acima da Espiral da Consciência, ou naquele outro, o grau seguinte por embaixo dela, degrau inferior para o qual, às vezes, nossa compaixão tende uma mão generosa, se beneficiando imediatamente da elevação de autoestima que seu gesto produziu ante si mesma.

Isso é medicina suficiente… esse pequeno impulso de bondade basta para remover a camada superficial do poço subconsciênte com uma ondulação de simpatia que abre, que leva embora as courazas, diluídas, ondulando em círculos até a periferia, que deixa livre o centro. Por aí penetra o primeiro raio azul, com cuja luz O Amor varre as sombras. E, automaticamente, tu te expandes.
Por isso recomendam os sábios que, quando tu não possas fazer nada positivo por tí mesmo, faças algo por um irmão que se encontra ainda mais desfavorecido, Lei da Reciprocidade, e já estarás fazendo algo positivo por tí mesmo.

Uma vez nós descontaminamos a camada superficial do poço, os tesouros de sabedoria divina que têm permanecido ali desde sempre elevam seu perfume cautivador, nos envolvem, e nos devolvem toda a potência necessária para nos converter em limpos canais e braços executores do Plano Evolutivo de Nosso Ser Essencial e Total sobre a extensão de Si Mesmo que o plano material é.

E esse Plano não visa outra coisa que levar a Consciência do Ser Cósmico que somos até a última das suas partes menos consciêntes; e esse é o trabalho e a missão de Amor Integral do ser humano, ao ter nascido como uma ponte entre seu Eu Maior, o Espírito Superconsciênte, e Sua Própria matéria animal inconsciênte, a pedra que ele há de pulir. Mas temos que chegar, por Nós Mesmos, a um mínimo de nível de expansão das Nossas freqüências de Consciência, para poder começar a servir ao Tudo, dentro da Dinâmica Cósmica, desempenhando funções tão discretas como delicadas.

Há, pois, que se preparar, ensaiar, treinar, superar-se. Superar continuamente as próprias perfecções, esse é o Jogo Divino. É mais que o Jogo da Excelência... é o da Perfeita Omnipotência, viva e móvel, dominando qualquer conflito, harmonizando todo seu espaço, albergando e dominando nele as infinitas escalas de Si Mesmo sinteticamente, isto é, através da alquimia da temperança, da conciliação de opostos, da aceitação e asimilação de quanto é escuro, pela luz do Amor.

...E daí, o que é que produz a ingestião de Ayahuasca? Você ouviu falar de um sistema anti-ecológico e brutal de pescaría que consiste em explodir dinamita num rio? A onda expansiva mata ou conmociona a todos os peixes que se encontram no seu rádio, sejam adultos ou alevines, grandes ou pequenos, de superfície ou de profundidade, e os faz ascender; então ficam flutuando imóveis sobre a água, a disposição do pescador, que vai colhendo os maiores sem se preocupar por ter esvaziado de vida a todo aquele pedaço de rio. Alguns índios amazônicos usam, para o mesmo, umas ervas, com as que envenenam as águas, mas que, por fortuna, não têm mais que um efeito temporariamente paralizante sobre os peixes: após os pescadores levaram os mais gordos, todos os demais vão revivindo aos poucos, e a vida continua.

Pois bem, a Ayahuasca sentía-se com freqüência, em verdade, como uma carga de dinamita xogada ao interior de nosso poço subconsciênte: Após uma arrebatadora explosão caótica de nossos fosilizados esquemas e bloqueios, todos os conteúdos da psiquis profunda, sublimes ou monstruosos, limpos ou sujos, pessoais ou agregados, angélicos ou demoníacos, traspassavam os umbrais de seu atontado guardião, o ego raçional, sem possíveis interferencias dele, e se apressentavam na superfície da consciência, ante nossa tela mental no terceiro olho, claríssimos, em toda sua magnificência, ou evidentes em toda sua repugnante vileza.

Como nossa consciência está acostumada a só considerar sua "Boa Imagem", a sua primeira reação emocional -num estado hipersensível- era de horror, pavor e vergonha, ante a contemplação nua de toda sua baixaría, que, como um câncer devorador, a estava vampirizando e corrompendo interiormente.

A remoção psicológica ia acompanhada de uma remoção somática e a beberagem, se não provocava noxo e vómitos ao ingerí-la, (por causa do seu acre sabor a resina de árvore), acabava por produzí-los mais tarde, o qual era bem positivo, já que actuava a modo de purga e fazia sair a porcariada física acumulada no corpo, tanto como a mental, e quando um se aliviava de ambas, lhe invadia um profundo bem-estar, no que podiam acontecer as visões mais lúcidas e gratificantes; carregadas, ademais, de sabedoria e comunicação (ou, melhor ainda, comunhão), com dimensões sentidas como cósmicas.

Quando a vibração energética se elevava tanto e a tal progressiva velocidade que nosso emocional tornava- se um caos, a maneira em que eu descobri que podia re-ordenar minha mente e a salvar do pânico, -mas cada qual que busque a sua- era fazer controladamente mais lenta e mais profunda minha respiração; não permitir divagações ao pensamento, senão manté-lo no meu aqui e agora mais alto; permanecer atento ao que meu interior tinha para me aconselhar, prestando atenção aos hinos; ou centrar-me no terceiro olho ou na cruz de dois braços que presidia a mesa… ou rezar com fervor um Painosso ou um Avemaria, ou qualquer dos mais conhecidos mantras indianos ou tibetanos, aqueles que eram entranháveis para mim faz tempo.

Estes símbolos ou orações viam-se ena minha trance como energias luminosas espirais de fortíssimo poder centralizador, que convertiam o caos num mandala de imagens, por fim coherentes, obrigadas por minha invocação a se estructurar caleidoscopicamente e a girar em torno do mais sólido, ordenador e ilimitado conceito da mente humana: Deus.
Deus invisível, Deus insondável, Deus indescriptível. Mas Eis, aí, aqui, em toda parte: O Ser.
O Ser luminoso e amoroso.
Aí e aqui e em tudo. Nosso Ser.

Innúmeras vezes eu agradezi à Vida, por ter chegado àquela Aldeia de Magos minimamente preparado pelo Ioga, por minhas leituras, pelos Mestres que tinha conhecido e por minha auto-formação no caminho do sentido crítico e da liberdade individual; caso contrário bem tivesse podido ficar enganchado no fascinio passivo daquele Poder durante muitos anos, como tanta gente que conheci; Isso fez também que, desde o início, pudesse aproveitar muito bem todo o potencial transformador que tinha aquele explosivo despertador de consciência que era o Daime, e que recebesse um bom trato e grandes dádivas do Mestre Juramidám, o que movimentou a concorrência de algúns de meus colegas para a arrogante fortuna daquele estrangeiro recém chegado.

Havia também uma enorme diferênça entre compartilhar a sessão com pessoas de uma verdadeira evolução espiritual ou com aqueles que ainda estavam pressos ao sofrimento, o medo e a baixa autoestima: um espírito bem firme e criador que começa a "mirar" na roda chamánica, pode facilitar a ascensão de todo o grupo para dimensões de extraordinária luminosidade, onde se pode contatar com entidades de mestría ilimitada que nos enriquecerão com suas inspirações; da mesma maneira, um baixo astral geral pode converter uma sessão em um tormento. ...Por isso, um bom comandante de sessão deve ser, mais que nada, um impecável e eguilibrado canal que sustenta para todos com total calma e firmeza sua própria ponte, tendida para a Fonte da Força Que Tudo O Harmoniza.

Na certa, a principal aventura interna que a ingestião sacramental de Ayahuasca facilita, consiste em se xogar voluntariamente à loucura, ao rompimento de nossos esquemas prefabricados e falsos de aparente estabilidade anímica e "normalidade" convencional, e depois manter o valor, impecavelmente afirmados na nossa confiança em nós mesmos e em nosso Deus Interior, durante a vertiginosa queda aos infernos subconsciêntes, enquanto tratamos de criar ou recriar -com toda a velocidade de nosso talento-, uma imagem mental sólida, inmutável, uma representação, um símbolo, que faça de Centro de Consciência Sagrada no meio do caos, o qual é, em verdade, Nosso Próprio Centro.... até que acabamos compondo, quando não surge sozinho.

...E então a loucura, ordenada, acalmada como uma serpente que se enrola mansamente em torno do pilar básico do trono divinal da Harmonia Mesma, transmuta-se em genialidade, em entendimento lúcido além de qualquer esquema explicativo, em emocionado conhecimento direto, experiencial, profundo, que nos põe em êxtase ante os tesouros do autodescobrimiento.


Capítulo 25- AS TRÊS ESMERALDAS

O Padrinho Sebastião tinha claríssimo, e não se cortava em afirmá-lo, que havia realizado em si mesmo o “Eu Sou”; que porque ele Era, sabia, e que opinava, não sobre o que acreditava, senão sobre o que conhecia… não por especulação nem pelo ter ouvido de outros, senão por té-lo bebido e degustado da Fonte Original que manava do seu interior.

Com a maior naturalidade e segurança, dizia que por ter-se realizado como Homem e ter realizado seus sonhos, era um aspeto de Deus Encarnado, e que todos podíamos chegar a sé-lo também se confiavamos o suficiênte em nós mesmos e em todos nossos irmãos; e ao dizê-lo, não deixava de parecer lúcido nem modesto, e palavras tão fortes, que poderiam soar como uma irreverência sobérba, prepotente e néscia em qualquer outra pessoa, sobrecogíam a quem o escutávamos, com o sentimento de que a evidência do que dizia transparentava-se através dele e da debilitada apariència de sua matéria que, no entanto, eu vía brilhar de Autenticidade… com aquele mesmo brilho que tinha entrevisto antes na matéria jovem e serena de Carlos Pacini.

Ao longo de nosso caminho vital passamos por numerosos mestrinhos e Mestres, aos que só podemos compreender se seu entendimento da Vida não se encontra em um nível demasiado acima do nosso: eles nos convidam, às vezes com um curtíssimo contato ou com uma breve sugestão, a explorar novos espaços de nosso imenso campo de posibilidades evolutivas. À medida que vamos ascendendo, tambien nós, apesar de nossa gigantesca ignorância, poderemos fazer de vez em vez o papel de mestres ou transmissores do consolo e da instrução divina, ante aqueles irmãos que vêm detrás, que ainda são mais ignorantes ou confusos que a gente, e que realmente no-lo demandan. Pela Lei do Amor, todos estamos aqui para ser cuidados e servidos pelos mais veteranos e ps irmãos maiores estáo obrigados a cuidar e servir aos menores e aos mais novatos que eles. Por essa mesma Lei, a gente ascende de nível quando tem trabalhado bem e sem afâ de lucro, de predomínio ou chefía, de reconhecimento externo ou de vaidade interna, e sem expetativa alguna, para ajudar a outros a subir àquele modesto degrau a onde tínhamos conseguido chegar, em lugar de defender ciumentos nossos mezquinhos logros contra a "concorrência".

Mas ditoso que aquele que conhece a um Mestre Realizado, é alguém que conheceu-se a si mesmo até o fundo e o cume do grau humano que tocou-lhe ascender, e ao conhecer-se nele, terá conhecido a Deus em sua própria Essência, meta fundamental de todo ser, cada um no extremo e na altura das possibilidades cognitivas de seu nível em cada relativo momento da eterna e infinita escalada do Ser. Depois de uma experiência ascensional assim, que desvela para sempre o Grande Mistério da Vida, que dissipa para sempre todas as dúvidas e medos do ego, definitivamente transmutado no Eu, já não existem mais diferenças entre as dualidades aparentes, acima e abaixo, dentro e fora, no individual e no Tudo, para este Homem com maiúscula, realizado, feliz, respirando Seidade por todos os seus poros, transparentando o brilho divinal do Eu Sou através de sua pele, tanto como de suas palavras de doce fogo.

Nada transforma mais a uma pessoa, nem sequer a mais poderosa planta de poder, que este modelo vivo, próximo, estimulante, de um ser que, tendo nascido como todos nós, na ignorância e na limitação, conseguiu acordar e se ligar continuamente com seu Ser Cósmico (Nosso Ser Cósmico), até SER Um com ELE, que é o mesmo que SER UM COM TODOS NÓS NO MAIS PURO DE NÓS ...que é o mesmo que ser O Amor.

Um Mestre é suficiênte ensino por si mesmo, por sua só existencia e exemplo, e pouco mais precisa explicar. Ele apenas é, e mostra aos demais homens como pode-se chegar a ser um Homem Completo, alguém que já não espera “aparecimentos de Deus", mas que dá depoimento da existência de Deus sendo-O e, ao mesmo tempo, amando, o que quer dizer, confiando e estimulando a manifestação divina em qualquer homem ou mulher, já que ele sabe onde é que Deus está: Deus manifesta-se nesta dimensão quando os seres humanos se estimam, se veneram e dão-se valor entre eles com harmonia. No Povo de Juramidám, chamava-se Padrinhos e Madrinhas às pessoas com autoridade ética, isto é, às que tinham desenvolvido um verdadeiro nível de realização no amor, claramente reconhecível por todos os demais.

Quando eu via ao Padrinho Sebastião tão dolorido por sua doença, minha alma pedia-me que tentasse algo por aliviar-lhe: Carlos Pacini tinha-me ensinado que, se uma pessoa aceitava voluntariamente receber seu abraço, aquele que ele dava em nome do próprio Eu Maior do abraçado, que é o mesmo Espírito Divino que anima à cada homem, seus bloqueios energéticos podiam se desfazer ou relaxar em um momento... Porém, eu cogitava que O Padrinho era todo o chefe de uma Igreja e me perguntava como reagiria ante a oferta da transmissão da energia de um homem desconhecido, supostamente autorealizado, e por intermédio de um estrangeiro que ainda não era mas que um buscador... Pensei-o muito, pois até parecia-me presuntuoso por minha parte propor-lho, sobretudo após ter mostrado tão estupidamente toda minha imatura vaidade em nosso primeiro encontró. Porém, finalmente, armei-me de valor e o fiz.

O Padrinho demonstrou sua boa fé (fé em mim, apesar de minhas carências) e sua humildade, escutando-me com toda atenção e respeito e dizendo ao final tão só:

- “Pois venha esse abraço”.-

Pedi um tempo para preparar-me bem e, na manhá acordada, fuí à cabaña isolada onde ele fazia um retiro com sua esposa. Ele estava muito aberto e ficou muito contente após o abraço, que transmiti tratando de me esvaziar completamente de ego, de fazer-me um puro canal. Brincó alegre e sentou-se no chão de madeira da cabana como uma criança e chamou-me sorridente a seu lado com grandes gestos. A Madrina Rita parecia espantada.

- “Agora eu vou-te dar o que eu sei -me disse, como com complicidade-, e o que eu sei são três coisas:

"A primeira coisa que sei, é amar a Deus com loucura."

"A segunda, que em qualquer parte onde um homem queira construir algo, não para sua própria vaidade nem lucro, senão por verdadeiro amor a Deus na Humanidade, na que Ele reconhece e Se reconhece, os mais poderosos espíritos do Astral e os melhores filhos de Deus sobre a Terra estarão de olho nele para ajudar-lhe. E ésto eu sei, porque foi o que aconteceu comigo."

"E a terceira... é um conselho que dou-te para aproveitar a fundo o poder do Daime: Estuda na miração tuas vidas passadas e observa a que tipo de trabalhos te dedicavas e com que tipo de pessoas: Quando o tenhas claro, não desperdiçes mais tuas energias nesta encarnação com outras atividades: foca-te inteiramente nàquela para a que foste emanado como espírito e aos poucos se te irão juntando os parceiros e parceiras que foram emanados contigo para serem células do órgão cósmico criado para realizar vossa missão. Realizando-a, vos realizareis".-

Estes foram os conselhos pessoais que recebi dele e eu os chamei “as Três Esmeraldas do Padrinho Sebastião”. Algo após sua morte, pintei em Rio de Janeiro um grande quadro no qual via-se ao Padrinho remexendo o Daimeno caldeirão do Feitío, enquanto a Rainha da Floresta, saindo da fumaça atrás dele, xogava a Água de Vida na panela como em cachoeira. Pelo invés do quadro, escrevi as Três Esmeraldas, e depois fuí ver a sua xenro, chefe da colônia carioca do Santo Daime, chamado Céu do Mar; e entreguei-lho pára todo o Povo de Juramidám, rogando-lhe que o enviasse a Mapiá. Aquele bravo comandante de guerreiros, de quem muitos diziam que tinha coração de jaguar, não pôde conter a emoçãoalidade, e um par de lágrimas empanharam seus olhos quando desenvolvi o lenzo ante ele.

Comentando um pouco as Três Esmeraldas -suponho que com as recebidas por cada um de seus discípulos se poderia juntar um tesouro incalculável- apontarei, em primeiro lugar, que a loucura de amor do Padrinho por Deus expressava-se da mais sã das maneiras: dando exemplo de confiança ilimitada na divinidade interna de cada homem ou mulher, isto é, valorizando ao irmão. E denunciando a maledicência desvalorizadora e disgregadora, porém, ao mesmo tempo, assumindo-a paciêntemente sobre seu coração redentor, para fazer a Tentativa de transmuta-la em Amor Fraternal Comunitário, aceitando, com ela, a dor que carregar a cruz da negatividade de seu Povo implicava.

Sobre a Segunda Esmeralda, é fácil ver que para o Padrinho, o trabalho de tentar a manifestação do Céu na Terra era a realização mesma e o amor manifestado em ação; trabalho desapegado, rendido ao serviço do Eu Coletivo, alegre, consciênte, humilde, limpo, atento, ordenado, perfeito, constante... que confiava sempre em fazerse, com isso, digno canal de poderes maiores que os próprios para o levar a cabo, e que o conseguia.

E sobre a Terça... convém ter muito cuidado com a presunção espiritual, com as fantasías do ego que se disfarça de santo para parecer o Eu. Cuidado com ir em busca de visões de vidas passadas e trazer-se só reis e rainhas e profetas e apóstolos e personagens gloriosas das histórias que temos lido ou escutado. Nosso Eu, em realidade, é o Eu de toda a Humanidade e o Eu Eterno; e todas as histórias são suas, porque Ele é o Unico Ser, que está vivendo todas as vidas do Universo num presente contínuo e circular. As lembranças do passado que o Daime nos traz, se efetivamente ele as traz e elas não são fantasías do Astral ou falsas interpretações do ego, são as sugestões, as representações pictóricas, que nosso Eu Superior nos faz para orientar o caminho que atualmente percorremos.
Importa pouco se estas visões são realmente retalhos de vidas passadas de um espírito individualizado ou sonhos ou imagens simbólicas, arquetípicas e coletivas, cenas do Teatro Divino; o que importa é a mensagem do subsconsciênte, do Supremo Artista Criador, que nos chega através do episódio, aquilo que nos faz refletir para endereçar e animar nossa caminhada ao que é nossa necessária missão no engranaje cósmico, por modesta que seja; e não para inflar ainda mais nossa autoimportância presumindo de ter sido Salomão, Elías, Saint Germain, ou a soma sacerdotisa dos Incas.

Se damos a nossa consciência tamanho e visão de partícula subatómica e com ela contemplamos isso que chamamos nosso corpo, vemos, que, em última instância, a matéria que nos envolve e na qual residimos, está conformada por uma dança rítmica e geométrica de pontinhos bipolares de luz que contêm informação. Por aí acercamo-nos a nossa essência: luz mental carregada de informação sonora, que combina-se "ad infinitum" para gerar mais informação: O interminável jogo do Ser autoconhecendo-se.

Nossos genes são microuniversos que contêm em si, como cada parte de um grande holograma, toda a informação que o Ser gerou desde que o primeiro gene humano fué usado como veículo da Consciência Divina. Há uma correspondência entre os chakras humanos e os filamentos luminosos que compõem o DNA: à medida que vão-se alinhando ordenadamente nossos chakras, comunicando-se consciêntemente e acendendo-se, também no inframundo genético vão-se alinhando, comunicando e acendendo mais filamentos de DNA, e a ingente memória cósmica ou Arquivo Akahico Coletivo e nossas infinitas identidades eternas, e a informação divina contida nelas, estará a nossa disposição, da mesma maneira que a ingente Rede Internet e todos seus universos de informação humana despregam-se ante nossa tela quando aprendemos a utilizar corretamente os comandos de um computador...
…No entanto, nosso DNA humano está cheio de virus, os virus que contaminam o discurso do decadente sistema que nos informou e que ainda nos informa e influencia, tanto desde fora, como desde dentro, desde nosso físico, emocional e mental concretos. Precisamos morrer para a vida comum e renascer como almas, para obter um novo e purificado código genético, que se corresponde com os paradigmas do Novo Tempo.

Assim foi como todos os grandes Budas se iluminaram: Saindo da vida “normal e comum”, retirando-se ao deserto interior e ao silêncio, se identificando cada vez mais com a pureza da alma, substituindo suas células densas pelas que conforman um corpo de luz com o qual elevar-se a sua Mónada. Viver na Mónada é viver a iluminação.
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Para percorrer ese Caminho Evolutivo, hai que deixar totalmente de prestar atenção ao Mundo de Ilusão dos corpos densos da personalidade, do ego, e só prestar atenção ao QUE NA REALIDADE SOMOS calar, se auto-observar, orar, servir abnegadamente, coligar-se com a hierarquia dos Seres Divinos, é a chave. Ante essa boa disposição nossa, Eles reorganizarão as nossas potências para levar luz até à mais escura das partes do nosso Ser, Essa é a a Missão de Amor e Redenção de todas as Consciêncisa, de qualquer grau. Os maiores talentos que ainda temos de adquirir, porque nos correspondem, durmem em nossos infernos interiores. Até lá debemos descer para resgatá-los.

E a propósito da missão: Convém que recordemos que rarísimo é o trabalho realizado por uma sozinha célula. Geralmente foram destinadas, desde antes da encarnação, um grupo de almas do mesmo raio ou de raio afín, que hão de se encontrar e trabalhar bem unidas para formar um órgão que realize uma função. Temos que estar atentos, abertos e ativos para reconhecer com o coração, a nossos possíveis colaboradores, para poder solidarizar-nos primeiro e nos associar depois com eles de maneira eficaz no momento oportuno. Há muitas formas e graus de comunidade construtora de um mundo melhor.

Já seja usando um estimulante psicoactivo como medicina para os mais doentes e alienados aprender, emotiva e intensamente, a orar, meditar e autolembrar-se, ou não o usando se não é necessário, um verdadeiro guerreiro ou guerreira da Luz deve ser capaz de seguir o caminho, tendências intuitivas ou vocação innata que têm vibrado amorosamente em seu próprio coração desde sempre, já que o amor é o cauce da consciência; e convém-lhe confiar em seu intuição para se abrir aos sinais e os encontros mágicos que A Vida porá ao seu passo; encontros nos que A Vida se revestirá de variadas formas para lhe entregar suas instruções e as ferramentas com que realizar sua missão, a fim de que, quando já esta esboçou-se claramente, possa o Servidor da Luz se entregar ao serviço transformador de si e do mundo, até o fundo e sem a menor sombra de dúvida, rebeldia nem desvio, aceitando disciplinadamente os retos, as dificuldades, as derrotas, os reconhecimentos do imperfeito, a correição, as demoras... e o respeito à organização natural com que se lhe apresentou a equipe destinada a realizar a funçao de todos, sendo capazes de enxergar à Vida, Deus, dentro de todos oss camaradas, já sejam subordinados, iguais ou chefes, e confiando neles como se confia na própria esposa ou nos filhos ou, melhor, em si mesmo.

Quando hoje, tantos anos após recebé-los, transcrevo estes conselhos do Padrinho, sinto que, ainda que tenham valor universal, são também uma receita específica para curar a doença espiritual particular que aquele grande sanador descobriu em minha própria alma quando fitou-me até o fundo, com seu olho sábio de Homem Realizado... minha mente vagabunda tem precisado estes sete anos para aceitá-los, digerí-los e comprovar, ao longo de muitas outras experiências, que efetivamente, são medicinas que meu ânimo precisa. Peço a Deus, e ao espírito do Padrinho em Ele, que me dê valor, vigília constancia e energia para os pôr em prática já, e com todas minhas possibilidades. Escrevo-o …casualmente? no Dia de San João de 1996, a grande festa do Povo de Juramidam.


Apesar de ter tido relativamente pouco contato pessoal íntimo com o Padrinho -sua doença mantinha-o algo retirado e todos o amabámos e tratávamos de não lhe atrapalhar- o ví muitas vezes em minhas mirações. A Ayahuasca facilitava o desdobramento astral e a comunicação telepática. As sessões estavam cheias dele.

...Ou, melhor diria, cheias de sua Identidade Cósmica, facilmente comunicável por ressonância quando o trance do Daime nos fazia atingir, ainda que fosse minimamente, a dissolução das falsas máscaras da personalidade que tem tampado tanto nossa própria Identidade Cósmica, que nível de Mónada é a mesma do Padrinho, e a de todos os Mestres, já encarnados ou ascendidos, e de todos os seres realizados de todas as dimensões, já que não existe senão um Único Ser, Mestre de Si Mesmo, em todo o Universo, e Nele estão contidas todas as individualidades -ou personagens que representa- ao longo de Sua eterna manifestação em todas as vidas destas personagens Suas.

Igual que só há uma água no Planeta Terra, ainda que parte dela esteja fazendo de mares, parte de rios e lagos, parte de gelos, parte de nuvens e vapor atmosférico e que outra parte conforme o volume principal dos corpos de todos os seres vivos... Em qualquer molécula desses estados de manifestação da água, encontra-se a mesma faísca divina e a mesma percepção e memória de Si mesma que se encontra num poderoso Arcanjo, a Suprema Consciência do Elemento Água Planetãrio, que rege todas as transformações, a suprema organização e a evolução viva deste componente da eterna Energia Divina. O Elemento Água é o mesmo que, a um nível menos material de vibração, conforma todo nosso Mundo Emoçional ou Astral.

Sebastião Mota sabia ésto porque ERA, e assim prometeu a seus sucessores e discípulos que estaria sempre com eles, se ressoavam com ele para valer, através de todas as dimensões da Eterna Existência, unidos no mesmo Espírito. O Padrinho inclusive acrescentou que no dia em que seu povo conseguisse deixar a um lado a desvalorização do irmão e começasse a viver realmente em harmonia, ele regressaria entre eles, para renovar e actualizar sua Doutrina, como Jesús tinha feito com a Lei dada por Moisés aos judeus.


26- A RAINHA DA FLORESTA

A maioria das vezes que contatei-no nas minhas trances, o Padrinho não estava só. Acompanhava-o sempre uma dama de resplandecênte fermosura, ainda que vestida de maneira muito singela. Quando se dirigia a Ela, Sebastião Mota parecia um rei antigo, como aquele corajoso e idealista Rei Dom Sebastião, de tanta saudade para os portugueses.
O Padrinho parecía o mais cavaleiroso rei cavaleiro, se dirigindo à emperatriz mais alta. Ela era a Rainha da Floresta, sua ánima Arquetípica, sua Lua, a Senhora da Água. Sua Virgen, sua Mãe Divina, ou Aspeto Feminino de Deus, a mais entranhável forma em que um homem pode amar a Deus com emoção e pensamento, antes de transcender toda forma, toda emoção e todo pensamento.

Grande, extraordinária mulher deveu ser a Madrina Rita, para que seu amor e sua ecuanimidade inspirassem em Sebastião Mota tal adoração pelo aspeto feminino da Divinidade, o qual podia espelharse na alma pura que assomava aos olhos de sua parceira. Sempre há uma altísima mulher inspirando a um grande homem, como mãe, ou como amante, ou como musa...
Benditas sejam todas as mulheres que sabem fazer-se sacerdotisas da Vida sustentando com firmeza Seu arquétipo na matéria, para que o lar seja um templo onde cada membro da família possa religar-se com o mais elevado de si através da litúrgia da perfeição no amor, na singela harmonia quotidiana bem consciênte, e através da nossa fussão ou casamento alquímico com a parte pura de nossa alma, que geralmente acabamos descobrindo refletida na alma complementar, a dessa pessoa amada que habita o corpo de carne e osso de sexo oposto que nos acompanha e que, a pesar de conflitos, choques e até separações, a pesar de ver e conhecer claramente nosso lado escuro, sempre nos aceita, apoia, tolera, consola, acredita em nossa evolução, coopera em nossa missão vital.

Há períodos predominantemente femininos ou masculinos na História: Durante os femininos se gestan as ideias e sentimentos matrizes de um mundo novo, em complementar oposição pacífica ao mundo velho. Isso faz-se na penumbra; delicada e caladamente, como em uma sementeira, e vão-se regando amorosamente as plantinhas que desabrocharam.

Durante os períodos masculinos, aqueles paradigmas que melhor se desenvolveram são real-izados, ou alçados desde o ventre feminino do subsconsciènte da Humanidade ao mundo real do nosso plano tridimensional de manifestação
Isto é, os material-izamos sobre a terra, depois de roturá-la, após os plantar, adubar, arrancar com mão de ferro as más ervas e colheitá-los; tudo isso baixo o ardente sol, testemunha de uma concorrência durísima entre as jovens mudas ou modelos mais poderosos de desenvolvimento humano, até que um deles consegue adueñarse, sentar seu hegemonía sobre a maioria do campo e seu estilo... e após dar fruto, agostar e decair, corromper-se, para que outro ciclo de desenvolvimento algo mais próximo à ideia da perfecção do Plano Cósmico para esse momento, possa se manifestar em seu lugar.

Este Novo Ciclo em que estamos, esteve atér agora gestando-se à sombra, na matriz da Imaculada Concepção das Formas, o aspeto feminino ou Inteligência Criativa da Trindade Logoica que conforma o nosso Ser Planetario, que sempre está empenhado, como qualquer ser divino, na tarefa em melhorar suas criações... Agora mesmo estamos iniciando, com o final do Segundo Milênio, um período predominantemente feminino, cujo papel principal consistirá em equilibrar, com sua intuição conetada, o excesso de intelecto denso e concreto ao que temos chegado com nossa evolução anterior. O Novo Momento Evolutivo exige agora um acordar do coração, tanto nos homens como nas mulheres, as quais, após masculinizar-se bravamente em Occidente, dominando as fraquezas da emocionalidade inferior e exteriorizando seu guerreiro interno para exigir seus direitos, começam a descobrir de novo a grandeza de sua Feminidade e a reasumi-la com livre consciencia e sem molezas.

O filho do novo equilíbrio entre cabeça e coração, será o desenvolvimento da sabedoria intuitiva nas vanguardias da Humanidade. Aquarius é, realmente, Aquária neste começo da Transição a um mais alto patamar da Consciência.

Um sempre ESTá no Ser, é inevitável, mas quando, ademais, um É no Ser (Ser é algo que requer a consciência integral de SER, não se pode SER inconscientemente, num Universo Mental), basta com evocar (imaginar, dar forma no mental), ou invocar (chamar por seu nome a alguma Energia Consciênte que se supõe já definida nos planos sutís)... a qualquer dos Seres, Irmãos Maiores nossos, que integram a Hierarquía da Consciência do Ser (que é Nosso Ser), para se dar conta de que absolutamente todo O Todo reside e tem residido eternamente em nossa Essência imortal, na qual Todos somos Um.

Esta é a base do poder mágico de manifestação: Nosso convencido chamado consegue que o que, desde sempre, tem existido em nós -todo o qual se acha contido no Plano Cósmico de Evolução-, precipite-se, (se apresente ante nossos sentidos como posibilidade de materialização).

Porém, a condição para tal ato mágico é que nosso todopoderoso subsconsciênte, (que é a Identidade Astral do Ser Humanidade), tem de evidenciar sem dúvida alguma, com a maior FIRMEZA, que, quando evocamos ou invocamos, sintamos nosso Poder Divinal com absoluta clareza espontánea e com absoluta segura confiança no Que Realmente Somos... Isto é, com a mesma segurança evidente com a que que sentimos normalmente que somos capazes de converter nosso pensamento em palavras faladas ou escritas...

Eis o que distingue a expressão segura e firme do adulto, quase automática de tão fluída, da vacilante da criança, a qual, quem escuta, pouco diferença se está fantasiando ou realizando... pelo que não lhe faz muito caso a maioria das vezes. Da mesma maneira reage o Subconsciênte Cósmico ante a maioria de nossos infantis caprichos, rara vez inteligentemente desejados e menos ainda, mantidos firmemente no tempo.

- "Cada qual merece o que sonha" - dizia o poeta colombiano León Octavio Osorno... O Universo sempre nos responde, envolvido em qualquer disfarce com que queiramos lhe invocar, se o chamado parte do mais autêntico e seguro de nós mesmos. As teorias fundamentais da Física Quántica atual fazem qüestão de que O OBSERVADOR CRIA A REALIDADE SEGUNDO A ESTÁ OBSERVANDO, modelando-a com as expetativas subconsciêntes ou consciêntes que projeta junto com sua observação.

No mental mágico cheio de segurança em seu EU SOU do Padrinho, e na sua imaginação embelezada pelo amor de sua esposa e da misteriosa majestade da selva em que nasceu… sua Anima, sua Dulcinea, seu próprio Feminino Interno, a parte mais pura da alma de Sebastião, era a Senhora de sua Inspiração, mensageira intuitiva do Plano Cósmico, como também tinha sido para seu Mestre, Irineu Serra, a Sua Própria desde que a Senhora se lhe apareceu sobre uma canoa, que navegava pelo rio da miração. E como eles, eu também descobrira, nas visões do Daime, a minha Amada Interna, que era o mesmo Espírito Feminino do Eu Sou que Somos, O que promove o amor fundamental de um homem pela Vida Mesma, ao mesmo tempo em que por sua dupla complementar, seja interna ou externa, em cuja Essência reside ese Espírito: Santa María, Amazona Aquaria, dizia-lhe eu em minhas êxtases, depois de receber seu Chamado.
... E outras vezes Ela aparecia como a Senhora da Cachoeira, Vénus-Oxúm, a estrela-guia de meus caminhos de peregrino, minha musa, minha professora, Yemanjá, Isis, a Guardiã do Conhecimento, A Senhora da Água, Gal, Alma-Lluc, Regina Maris, a Mãe da Luz, a Rainha dos Anjos e dos Elementares...
A Virgen Mãe Terra, a Natureza, a Maga, a Imaculada Concepção das ideias, das imagens, o raio de luz que se filtrava para minha solidão entre as copas da selva, A Senhora do Subconsciênte Emocional, a Soberana da Floresta Mental. Anima Mundi, Gaia-Flora-Shavastia-Pachamama, o arquétipo dos arquétipos, A Rainha informe das cambiantes formas, a metáfora das metáforas, a Deusa Mãe, minha eterna companheira, confidente, cúmplice, conselheira, minha alma gêmea, meu amor. A Vida.

A Vida é o eterno ato de amor do Ser Consigo Mesmo.

A Rainha da Floresta era a supraentidade principal do Povo de Juramidám, raro era o hino em que faltasse seu nome; Entendia-se que a Selva era o Coração do Mundo, a Porta do Astral, e que o coração do Astral era a Senhora do Supremo Amor. Explorador e canoeiro, o Padrinho passou a última metade de seus anos penetrando a Selva do Subconsciênte sobre as águas do Daime, ao igual que tinha passado a primeira metade navegando a Amazônia de igarapé em igarapé... Um aventurero nato que, quando a selva física já não teve secredos para ele, cruzou a porta interdimensional e foi embora a navegar pela selva astral, fazendo aliados e construindo colônias também nela.

Com ele acabaram-se os tempos heróicos, idealistas e românticos do Povo de Juramidám e talvez também da Amazônia: A última vez que conversei com ele em Mapiá, acompanhado por meu anfitrião, seu compadre, o Mestre carpinteiro Dom Manuel, o Padrinho achava-se só no recanto afastado onde se construíam as canoas, pelo velho procedimento de queimar e esvaziar um grande tronco de árvore, e olhava-as tristemente, como os caballeros de antanho deveram olhar a seus amados cavalos no dia em que o mundo começou a se encher de veículos a motor. Antes de ir embora, pediu-nos nossa ajuda para revirar uma canoa não acabada de construir, mas que já tinham abandonado... e que se estava enchendo de terra e residuos vegetais que acabariam por apodrecé-la. Agora tudo quería-se comprar fora!.

Meses após, encontrei-o de novo no Ceu Do Mar, Colônia do Santo Daime em Rio de Janeiro:

-Padrinho, Como vai essa vida? - perguntei com carinho, beijando sua mão para pedir-lhe a bênção, segundo o velho costume amazônico.

- Pouca vida fica já, pouca vida...- respondeu-me beijando a minha; e, efetivamente, escassos dias mais tarde, o 20 de Janeiro de 1990, enquanto todos os guerreiros e guerreiras do Daime cantavamos celebrando seu Santo em todos os templos do Brasil, o Padrinho subiu ao encontro de sua Rainha Inspiradora como um caudilho triunfal, a entregar o cetro do reino construído na selva, a ofrendar a Essência do Sonho Realizado e do Arquétipo plenamente manifestado.

O último ato de serviço do Padrinho Sebastião Mota foi participar em um hinário em uma Igreja Daimista que se tinha separado, tentando tender uma ponte de confiança na reconciliação entre os irmãos que escindían sua Nação Espiritual com suas lutas de poder.


27- A INSPIRAÇÃO

Após uma dura adaptação a Mapiá, que uma grande parte dos visitantes que chegaram comigo não foi capaz de resistir -viver ali supunha participar continuamente em um esgotador trabalho de derrube e trozeamento de árvores e outras mil operações dirigidas por homens muito rudos-, consegui ser mais ou menos aceitado pelo setor do Povo de Juramidám que mais se relacionava comigo. Aqueles ásperos gigantes que extraíam tudo da selva, desconfiavam, e com freqüência menosprezavam, aos doutorzinhos da cidade que chegavam ali carregados de bens de consumo e ideias organizativas e que, por causa de seu nível cultural exteriormente mais alto (chamavam cultura à programação do Sistema), pretendiam fazer-se os amos, ainda que sua eficácia no trabalho solidário não chegava nem a um quarto da talha da de um pioneiro amazônico.
Eu fiz muito bons amigos, especialmente entre os autênticos homens de selva, que eram os que mais naturalmente tinham entrado na mística do Daime, já que suas mentes eram primitivas, porém, puras e corajosas, enquanto o pessoal das urbes tendia a misturar tudo com suas paranoias cidadãs, entre as quais, a mais marcante, era o instinto de competição individualista... isto é, trepar por acima de todos os demais.

Não eram poucas as pessoas sensíveis que acabavam por receber algum hino dos seus guias astrais no trance do Daime, hino que normalmente indicava à cada um aquilo que mais tinha que trabalhar, assinalando ao mesmo tempo seus melhores caminhos, ainda que todos eles eram muito simples e pareciam-se bastante (em uma primeira audição), tanto na letra como na música, e o verdadeiramente diferente era o ritmo da vibração que continha cada um, ou seja, o deva e suas inspirações. Um hino pode arrancar de teu interior um torrente de imagens-lições e, um momento mais tarde, as mesmas estrofas talvez desencadeiem toda uma cachoeira mental de sentidas intuições, com um caráter completamente diferente daquele que predominou nas anteriores.

É curioso que, ainda que os daimistas anglosaxões já têm recebido do Astral hinos em inglês, os de fala castelhana os recebem, até agora, em português, que, por certo, é outro filho do latim mais musical, suave, maleável e fluinte que o espanhol; tanto assim, que na Idade Média, quando na corte de León já todo mundo empregava o récio e viril castelhano como língua oficial, a poesia lírica e amorosa dos trovadores, continuou fazendo-se, durante mais um século, em galaico-português, que se considerava ideal para ser declamado ou cantado. Alguns daimistas hispanos temos feito a experiência de traduzir hinos ao castelhano para cantar com nossos amigos, facilitando-lhes seu entendimento, mas, indefetivelmente, eles mesmos acabam por nos pedir que os cantemos juntos em português, ao que a qualquer espanhol se adapta rapidamente, encontrando gosto e graça em entoar nessa língua irmã, tão doce e feminina.

Eu não recebi nenhum hino, senão um poema. O transcrevo aqui em portugués, ainda que ele estava no galaico-portunhol sintético com o que eu pensava no Brasil, tal como me chegou, com todo seu sabor original, ainda que nem aos acadêmicos galegos nem aos portugueses parecería-lhes corretamente escrito. Porém, é fácil comprender o pouco que eu importava-me das academias no meio do universo natural da Amazônia, praticamente sentido como outro tempo ou dimensão, outro espaço sideral, o invés do planeta, o outro lado do espelho... Este poema, em fim, dá uma boa ideia da exaltação emocional com que eu vivia o ambiênte místico-mágico de Mapiá.


 EU NÃO QUERO TER VONTADE 

Eu nao quero liberdade, minha vontade é de Deus,
Já não tenho mais vontade, fora dos desejos Seus.
Os desejos dá Rainha são os sonhos de meu ser,
toda a liberdade minha se ennobrece em A server.

Eu nao quero liberdade, eu não quero mais escolhas,
todo meu prazer agora é deixar a Ela fazer.

Conduzido pela Virgem, eu nao sinto mais fraqueza;
Ela me tornou completo, Ela virou-me firmeza. .

Dando-me a beber ou Daime, disolveu miñas correntes;
Os anjos fizeram festa junto as selvagens nascentes.

Com meu fação na destra, ante os caboclos do Astral,
nomeou-me defensor do seu Reino dá Floresta.

Seu abraço vegetal acendeu meu olho interno,
para explicar-me o passado, minha busca, meu inferno.

Cada um dois meus amores foi reflexo dá Senhora,
espelho, ilusão, chamada, saudade dá Deusa Amada.

Ela é a mais pura emoção, Ela é todas as damas,
a Voz do meu coração, minha Eterna Enamorada.

Ela é Meu Ser Real, o mistério do Uni-Verso,
sem mais veus, sem mais saudade, o Cosmos feito Unidade.

Miña Mãe, Irmá, Ideal, minha encontrada metade,
todas as belezas juntas, A mais Alta Majestade.
Sol, Lua, Estrela, Galáxia, minha lámpada interior,
o fogo que me consome, a Origem Pura do Amor.

Mapiá, Set. 1989


É muito difícil dizer se este poema foi ou não um presente de forças alheias e superiores do Astral ou de minha própria inspiração subconsciênte; eu estou convencido de que as palavras "próprio" ou "alheio", "superior" ou "inferior", só servem para nos entender superficialmente no mundo da ilusão dual da Dimensão Física e do Astral Inferior, porém, daí para acima, isto é, da consciência velada à consciência clara, a separatividade individual não mais existe, e tudo é naturalmente Um e a mesma coisa.

A mim não me parecia que aquela maneira de receber visões, hinos e revelações, que a gente mais sensível tinha durante o trance de Daime, fosse muito diferente da percepção estética intuitiva e do entendimento imediato, ainda que não lógico, do sentido essencial das imagens subconsciêntes que os artistas estamos acostumados a ver aflorar do nosso interior com o nome de inspirações criativas; Um verdadeiro artista é sempre um canal bem afinado -No Brasil diría-se um "medium"- entre seu consciênte masculino externo e seu arquétipo subsconsciênte da Musa, isto é, seu feminino interno inspirador (só é uma qüestão de ajuste de termos se o artista é uma mulher).

Mais genial será o artista quanto melhor ligado com seu Gênio Interno e mais sintetizado com sua Musa; mais original, quanto mais identificado sinta-se com sua Origem (e quanto mais fluidamente ele incorpore, ou manifeste, ou expresse, seus arquétipos especificamente innatos ou originários, seus "Orixás", o qual marca o estilo pessoal profundo de cada mestre. Assim era como o Padrinho manifestava a São Sebastião-Oxossi-São João Batista). Um "Artista Divino" é um Mestre que se autorealizou, fazendo-se um com o mais autêntico e real de si mesmo através da Via da Arte.

Ligar com o Gênio Interno tem, como tudo, vários níveis; em cada um deles, O Gênio se mostra baixo um aspecto ou disfarce, ou personagem diferente:

No primeiro nível, físico, mostra-se como o desafio que se lhe propõe ao artista, ao construtor de si mesmo, ao guerreiro, ao mago… de criar com suas mãos uma nova harmonia do tipo que seja, sobre o plano em que vive em um corpo, vivificando-a e corporizando-a; dotando-a, ao mesmo tempo, de um espírito original, a partir de uns quantos elementos materiais, quanto mais escuros e humildes melhor, para tratar de comprazer a Seu Ser com uma nova obra excelsa saída de suas mãos. Um bom desafioo tem de ser um desafio genial.

No segundo, emocional, o artista enfrenta-se à obra em processo de maneira muito íntima, estabelecendo-se uma clara dualidade obra-executante na que o sentimento impera; é a parte da confecção da obra na que há uma busca, uma ânsia, uma dúvida, e um impulso penetrante que tem muito de sensual. A energia flui, diretamente, desde o centro do sexo, sutilmente excitado e concentrado, até o centro da frente, atrás da qual se acha o Centro Piloto que coordena, e que dirige a mão, a qual segue com ritmo as compulsões do sentimento... Uma obra genial contém uma profunda busca e uma enorme tensão emocional.

No terceiro, inteletual, porém, intelectual sutil, o Gênio manifesta-se quando, no meio do maior problema técnico e psíquico, justo no momento em que o pintor não é capaz de ver ainda uma solução harmónica para o conjunto do quadro e tudo parece deslavazado... surge uma faísca adentro, um trovão lampejante de entendimento que ilumina o caos, e o executante "mira" o quadro. Esse é o momento em que se manifesta A Musa Amada. Todos os revoltos e enfrentados sentimentos da busca anterior ordenam-se então, sob um só ponto de vista harmónico e cheio de significação. Ela, o seu complemento interno, a Metade Oculta do que você é, inspira o entendimento do conjunto.
Isto é o afloramento súbito da análise intuitiva que tinha ido se processando por dentro, enquanto o autor enfrentava-se dualmente à obra, querendo-a analizar desde fora. Uma obra genial resolve todos seus enfrentadíssimos contrastes de uma, com um simples traço intuitivo.

Do quarto a o... digamos sétimo, ainda que é só um dizer, o Gênio se manifesta em seus níveis mais complexos e sutís, quase poderiamos chama-los espirituais, se o Espírito não o fosse tudo... Neste ponto, a obra só demanda acabamento, mas nesse acabamento, e em saber deter-se no ponto justo em que o Mistério se revela sem se desvelar, é onde se vê o nível de maestría do artista.
Chegando ao sexto nível, o artista já não é mais um artista somente, senão uma mistura de artista, místico, filósofo e cientista... um alquimista, um transmutador. Uma obra genial é matéria densa transmutada em Espírito vivo.

O Gênio-Gênio aparece, por fim, como o nível de tua consciência no que já podes contemplar as consciências parciais de todos e cada um de teus anteriores níveis, com uma consciência global, de conjunto, que as unifica a todas e na qual, cada nível é só uma função das muitas que compõem o mecanismo sutil de funcionamento da Mente Cósmica.

Uma obra genial é total, universal e cósmica; expressão de Deus actuando desde a mente e os sentidos humanos. E uma riscosa aventura humana, que qualifica toda uma encarnação, que converte ao artífice todo na sua obra e à sua vida na essência da obra. …Porque a maior obra de Arte é a própria transformação do operário num criador imortal, divino… não ante a galería, senão ante o Espírito; e as obras externas só são o espelho-pretexto para sua transformação interna.

O mito grego de Prometeu ilustra muito bem o arquétipo do Artista Divino, que se põe em risco absoluto, realizando a tentativa de levar luz aos homens através de sua obra, ainda que tenha que roubar o Fogo Vital do Céu. Deus é a Criatividade Mesma e nós somos seus filhos jogando o Seu Jogo: Este mundo não é senão uma escola de artistas cósmicos, onde treinamos o manejo da mais limitada das energias (a matéria), a fim de conseguir o domínio de nosso poder innato de Logos criadores e sustentadores de mundos, que é nosso destino de Espíritos Multidimensionais Adultos… de Humanos realizados totalmente.

Nessa altura da Pirámide do Conhecimento, já não existe diferença alguma entre os que acessam à iluminação por uma ou outra cara, uma ou outra via. Quando chegou-se ao topo, as escadas, os metódos que se usaram para subir, abandonam-se, e o peregrino ascende ao cume por seu próprio pé.

…No entanto, outras pessoas diziam-me que meu poema não tinha nada a ver; que os hinos se recebiam como um "insight", completos, totais, acabados, em português brasileiro e com sua música, sem possibilidades de correção ou aperfeiçoamento posterior; e nunca de maneira nebulosa, a pedaços que vão-se completando depois, como costuma se manifestar o fenômeno de inspiração artística.

Talvez penso que seguramente aquelas pessoas tinham razão, mas então a mim isso não me acabava de convencer. As melhores obras de inspiração artística eram puros insights, que fluiam na treinada mestría expresiva de seu criador. Os pintores contemporâneos apreciavam mais um primeiro esboço em estado puro que um trabalho aperfeiçoado a base de relamimentos e correções, o que costuma lastrar de matéria pesada sua espontaneidade; Mozart escrevia de seguido a música que ouvia em sua mente, dizem.

A maior aspiração da Arte atual reside em ver ao homem expressando-se espontánea e criativamente, não desde o que foi aceitando do variado discurso do mundo, nem das fantasías da sua imaginação, senão o que descobriu como VERDADE INDUVIDÁVEL desde seu Eu Autêntico e Profundo, além das fórmulas estereotipadas que lhe foram impostas em sua aprendizagem social, e que se perpetuam pelo uso da linguagem, a lógica... e pelo medo a não ser aceite, se o artista sair dos postulados artísticos ou cientistas tidos como mais progressistas pela valaorização os “entendidos” ou daqueles que, simplesmente, conseguiram pôr-se de moda, ainda que não os compreendam nem seus criadores.

Jamais ví que o Daime tirasse do interior de uma pessoa algo que não tivesse estado ali antes. Nenhum espírito que eu tenha visto se incorporar sobre um medium mostrava um nível cultural ou de inteligência superior ao habitual neste, conquanto parecia agudizar e fazer mais fluída a manifestação de suas próprias potências internas, como quando, por efeito de uma droga ou do álcool, o indivíduo consegue se expressar direto desde seu inconsciênte, sem as limitações e inhibições da racionalidade e sem bloqueios ou timidezes emocionais (O qual era o objetivo principal dos artistas Surrealistas europeus de princípios do século XX).

Fenômenos como começar a falar ou a escrever em línguas estranhas ou a respeito de situações históricas ou dados culturais que não têm nada a ver com a formação de um, só podem-se explicar pelo contato telepático ou ressonância na Essência com as egrégoras do Subconsciênte Coletivo da Humanidade que todos portamos holograficamente em nossas profundidades, lá onde a individualidade se dilui (O Registro Akáshico tão mentado pelos esotéricos)..ou como a egrégora ou a memória genética racial ou familiar... ou como relembranças de vidas passadas... Ainda que, então, eu estava bastante convencido, de que não é minha efêmera personalidade a que recordava ante-vidas, senão minha Identidade Coletiva Regente: O Ser Humanidade em mim, que viviu todas as vidas da Humanidade e guarda memória.

 Faz muitos anos, fumei por primeira vez um cigarro de maconha, um vaciado, nas Ilhas Canárias espanholas. Encontrava-me desenhando quando começou o alcaloide a fazer efeito em mim. De repente, ví claramente projetado sobre o papel o desenho que acabava de esboçar minha intuição criativa na mente. Estava tão claro como se fosse uma diapositiva, um “slide”, desde minha frente projetada; tanto, que não tive mais que pasar -lhe a mina caneta por cima e calcar-lho como se calca um desenho com papel transparente ou papel carvão.
Excitado pelo espanto, passei toda a tarde desenhando daquela maneira, mas o fenômeno já não repetiu- se jamais de uma maneira tão consciente, por muito que fumei maconha, pois suponho que já estava incorporado e automatizado. Deixei de fumar para limpar minhas percepções, e um tempo despues repeti, mas não tornei a captar a projeção, ainda que sim a fluidez que dava estar criando tão espontaneamente como se eu calcasse. Mais tarde decatei-me de que o que se ganhava em fluencia, perdia-se em exatidão e perfeição, que parecem atitudes mas próprias do hemisfério esquerdo lógico e medidor, que do direito intuitivo e lúdico.
Aquilo me fez pensar muito sobre o processo de criatividade artística e isso que chamam revelações ou visões. Continei achando, durante anos, que não estavam muito claras as fronteiras entre ambas. Hoje penso que minha personalidade física, emocional o mental não pode criar nada, só repeter o que aprendeu e conhece. Quem pode criar é a Mónada, o espírito individual, se bem conetado com a Fonte de toda criação.
Quanto a desenhos, estou acostumado a deixar que os conteúdos de meu subconsciênte tomem forma no papel, de uma maneira quase automática, com mina caneta ou marcador, e só quando já se pode adivinhar uma forma, a acabo definindo melhor com poucos trazos. É uma técnica que eu aprendi dos Surrealistas, mas que também emprega o Espiritismo na preparação de mediums, treinando-lhes assim na Psicografía, ou escritura automática.
Desenhando deste jeito, começei em Mapiá a receber inspirações. E eram todas como cartas de um Tarot... O Daime atuava como estimulante de minha inspiração e um torrente de insights de imagens simbólicas ia a minha mente e produzia fáceis e rápidos desenhos sobre minhas teias, os quais me assombravam por sua segurança de execução e profundidade de conteúdo metafórico-mítico. Era uma fluidez muito superior à que tinha tido em meu grande mês de criatividade na florida finca "Shavastia", em Goiania.
28- O TAROMIDÁM 
Nos momentos que me deixava livres o duro trabalh
o de Mapiá, fiz um primeiro baralho de cartas para todo o Povo de Juramidám e o entreguei ao guerreiro que tinha sido meu introdutor e meu primeiro amigo em Mapiá, desde antes, inclusive, de ter chegado à Comunidade. Era um chileno capaz de fazer funcionar um motor com arames e astilhas, continuamente dividido entre sua fascinação por todo o ambiente do Daime e sua ânsia de sair deali de uma vez, e viver de novo sua liberdade individual sem tanto fiscalzinho nem tanto empecilho regulamentar.
Confessou-me estar convencido de que eu estava louco e pode que não lhe faltasse razão... ainda que também é possível que estivesse olhando-se em minha teimosadefesa da minha egoica dignidade individual como em um espelho, no qual contemplava seu próprio conflito interno. Também eu me projetava nele e descobria cuan fortemente rebelde a suportar bridas de qualquer tipo era nossa alma hispana de potros bravíos. 
Já desde o primeiro momento percebi que nem o nome das cartas, nem sua numeração, correspondiam-se com as do Taró Clássico, mas não quis modificar nada, porque aquilo que me tinha chegado eram insights intensamente sentidos e fluidamente recebidos.
Já que era diferente, denominei TAROMIDÁM a meus 24 Arcanos Maiores em honra a Midám, o Logos Filho, o Mestre Interno em linguagem local. O segundo baralho melhorado de cartas foi feito especial para o Padrinho Sebastião, utilizando suas próprias palavras e imagens habituais.
O Padrinho encantou-se com o Taromidám e esteve nesse dia muito alegre e confidencial comigo. Então, eu ousei pedir-lhe que se considerasse meu trabalho de desenhista como contribuição útil à estensão da Messagem Essencial da Comunidade e não, como julgavam alguns, um jogo de cidade ocioso e improdutivo.

Assim, roguei-lhe que me desse um litro de Daime -Eu tinha direito a ele, acrescentei, já que tinha participado no feitío- e um pouco de tempo livre, para confeiçoar um Taromidám que levar pelo mundo, no que trataria de sintetizar a essência do aprendido em Mapiá, somado aos ensinos de quem seguia considerando meu maior Mestre, Carlos Pacini, cujo abraço acedera a receber o Padrinho por meu intermédio. Por então eu ainda não percebia que, quando se chega ao nível de Mestre, todos eles são O Mesmo... e ficava comparando as cascas que envolviam-lhes.
O Padrinho ordenou gentilmente que me dessem a garrafa e me eximissem de alguns trabalhos; o que despertou mais invejas e concorrências entre o círculo dos espirítus adormecidos com os que, por causa de minhas próprias limitações, afins às suas, tinha-me tocado conviver.
Também foi mecenas desta obra Dom Manuel, o velho carpintero, colega do Padrinho desde a juventude de ambos, em cuja casa estava eu alojado; abençoado seja seu espírito onde for que hoje esteja. Ele brindou-me toda sua colaboração, aprecio e amizade para que eu fizesse o mais comodamente possível meu trabalho, e foi desse modo que pude retornar a meu amado oficio, meu caminho-coração, desenhando concentradamente de dia e de noite, à luz de uma fumeante lámpada de petróleo, sem deixar de dedicar muitas horas aos trabalhos comunitários, participar nos hinários ou arrimar o ombro no dia inteiro, quando tinha feitío ou colheita de feijão.
29- ASCENSÃO DA FORÇA

Sempre que podia, tomava ritualmente meu copo de Daime de amanhecida, e perto de uma hora mais tarde, quando começava a sentir a suba daquela poderosa Força desde o plexo solar à cabeça, agarrava meu fação e uma pasta com minhas cartas de tela, imprimadas com pintura latex branca, e partia pela trilha que se adentrava na floresta.
Ao chegar aos limites dos espaços devastados com a mata virgen, pedia respeitosamente permissão à Rainha da Floresta para entrar em seus domínios a fazer meu trabalho, e depois continuava com confiança. A energia ia subindo até que o guardião do umbral, mina controladora personalidade externa, cedia o comando de meu corpo e de minha mente à incorporação de meus próprios arquetipos originais subconsciêntes.
A primeira vez que eu tivera uma entrevista com um Guia do Astral, o caboclo Pirinám do Pará, incorporado na medium Dona Teresa de Icoarací, lá em Belem no 86, ele me disse:
- “Vejo a teu redor poderosos guias que te protegem, especialmente uma entidade feminina resplandeciênte. Pela vibração parecem-se a Yemanjá e a Oxossi, mas não são eles... são entidades de outro país, não os conheço”.-
Naquele momento eu não dava o menor crédito ao espiritismo, ainda que fascinava-me, como podem fascinar a um viajante os contos e lendas dos novos países que vai conhecendo. Parecia-me uma exótica comédia de expertos feiticeiros que logravam manter feliz e contente ao bom povão brasileiro a base de pura sugestão. Infiltrei-me pouco a pouco entre eles com a secreta intenção de desvelar as imposturas, acendendo, entretanto, como amável ajudante, muitas velas nas cerimônias sagradas...
Porém, o que finalmente descobri, maravillado, é que a Magia, por trás de sua ropagem folklórica, era a forma mais eficaz de psicologia profunda e a terapêutica mais liberadora que nos tinha legado a sabiduria do passado através das pessoas simples e puras do povo humilde e escravo, a quem lhes tocara o papel de transmissores. Uma ferramenta única de ordenação do laberinto da mente, a base de símbolos reconhecíveis e usáveis, para ajudar ao homem entrar em contato rápido, irracional, útil e prático com suas potências divinais.
Agora, graças ao Daime, minha razão discriminadora, o cão-cerbero inflexível da mente ocidental, acouraçado de materialismo pseudo-científico, retirava-se a descansar de sua borrachera de Ayahuasca, e no portão desguarnecido que faz de fronteira entre o consciênte e o subconsciênte começavam a aflorar, entre as néboas do sonho, os meus Guias Ancestrais, talvez os deuses arcaicos ou inventados de minha Galiza nativa: A luminosa Gal, envolvendo de prata as barbadas carbalheiras em noites de plenilúnio; o iniciador Lug, guardião do Caminho das Estrelas que mas tarde chamaria- se de Santiago; o solar Aurens, incendiando o oceano de reflexos dourados, frente ao Cabo do Fim do Mundo, baixo cujos alcantilados despediam o dia com seus cánticos as loiras sereias da Costa da Morte... e muitas outras entidades de nomes confundidos ou esquecidos, mas que personificavam, cada uma delas, um pedaço de minha eterna memória essencial, um resumo energético de cada experiência de manifestação.
... Até então só caminhara pela segura trilha feita pelo homem, atento a não me perder no imenso labirinto da selva e com muita prevenção contra as feras; mas, de repente, sentia que uma entidade primitiva, rude, um selvagem que nem quase falar sabia, incorporava-se em mim. Aquele Marte subconsciênte, talvez uma lembrança genética do homem prehistórico que em uma remotíssima encarnação tinha veiculado a mina Mónada -ou quiçáa personificação do arquétipo elementar que ainda hoje rege meu tálamo, meu cérebro reptil automático-, tomava conta de mim com um rugido e então eu sentia uma cachoeira de extraordinária força me penetrando, e meu punho fechava-se apertando duro o cabo do fação, que se tornava imediatamente um raio cortante, desafiador da fúria da fera mas ousada. Aí, eu sabia, sem a menor dúvida, que nenhuma serpente nem onça teriam ânimo para me enfrentar, e então abandonava a segurança da trilha, substituída pela confiança total no instinto da entidade acoplada À minha aura que comandava minha vontade, e deixava-me perder entre a maranha da selva.
30- TRABALHO NA FLORESTA

Durante dez minutos ou meia hora, deslizava-me silencioso e ágil como um animal entre cipós e matas exuberantes, sem precisar sequer me abrir caminho à fação. Introduzia-me na catedral vegetal onde os troncos projetavam até o céu suas nervaduras em colosais abóvadas de cruzeiríaque mal deixavam filtrar raios de luz na penumbra... até que por fim encontrava, com absoluta evidência, meu lugar, o lugar de poder, que cada vez era diferente. E eu sabia internamente que ese, e não outro, era meu lugar; e que ele era tão seguro como se uma muralha invisível e circular me protegesse.
Naquele momento deixava o fação a um lado e sentava-me no solo, pernas e braços cruzados, vegetalmente relaxado, fundido e enraizado no seio cálido e úmido da Terra, prendido ao tempo do Céu, muito além do azul imaginável, por um fio de poder que antenava minha fronte... e já por fim acomodado, a penumbra parecia se iluminar por fluídos de luz que me chegavam das árvores, como se tivessem estado esperando-me até então.
Nesse instante, meu selvagem regressava ao Astral e outro de “meus eus” incorporava-me: o monge adolescente. Com o maior fervor, calma e devoção, absolutamente centrado no terceiro olho e sentindo-me tão leve e vazio como se minha matéria estivesse se desintegrando em uma pura dança remoinhante de electrons, focado todo eu em meu Verbo, sentindo o fogo que gerava-se em cada palavra, oferecia uma viva oração à Virgen Mãe Terra, cujos braços vestidos de follagem sedosa envolviam-me, rogando à Rainha da Floresta se dignasse enviar-me material para meu trabalho. E Ela enviava-o.
Vinham então sobre mim mirações tão intensas e luminosas que sentía-me quase levitar no ar, sentado como estava, leve, oco e traspassado pelo Poder, sem deixar de musitar as entranháveis orações aprendidas de criança, como uma landainha interminável que me ligava intensamente com a Origem de todas as energias. Minhas orações tinham-se tornado meu respirar, e meu centro respiratório já não estava mais nos pulmões, senão na base do nariz, ativando a pituitária e a pineal: Todo meu ser individual fusionava-se agora com meu Ser Cósmico em uma inspiração-expiração que, quanto mais profunda, lenta, sentida e desfrutada minha oração, mais clara e sensível a miração fazia-se.
Sentia-me rodeado de luz, envolvido em luz, penetrado de luz e todo eu era uma fogueira cálida de luz; deleitado por uma parte no prazer de ser tomado até meu último átomo pelo amor da Vida, e suportando, por outra, uma elevação tão intensa e acelerada de minha energia, que parecía-me que poderia explodir em qualquer momento. Luminosas geometrías coloridas dançavam dentro de minha mente ao ritmo de minhas orações, girando e girando e convertendo-se em formas reconhecíveis, até conformar uma carta completa do Taromidám que ficava gravada em meu cérebro. Às vezes mais outra, e até três cartas... que depois permaneciam se repetindo ante minha visão astral, enquanto eu agradecia uma e outra vez, com as mãos abertas e os olhos fechados, sentindo a todos os elementares da selva dançar alegremente, compenetrados com todos meus elementares internos, ao redor do fio luminoso e ondulado de meu agradecimento incesante, que me ligava ao Céu, ao mesmo tempo em que A Terra latejava baixo meu corpo como a pele morna, turgente e suorosa de uma amante; respirava em curtos e profundos intervalos pelo nariz o fogo rosa-violeta do ar, mas sabendo que era o ar quem, na verdade, respirava-me.
Via-me desde dentro e desde fora, penetrado por tudo e penetrando-o tudo, minha cabeça aberta como um cálice, gozando até o não-limite do amor com O Mistério, que me inundava de muitíssimo mais Conhecimento que o que podia assimilar, desbordando-me orgasmicamente, atravesando-me. Na miração, a bela Musa Amada, feita pura flama luminosa pressa em minhas entranhas, abraçava meu cérebro nu contra seu peito e também o coração e o cerebro, e o coração de cada uma de minhas células, consumindo sua matéria e transmutando-a... e toda a Criação falava-me intimamente ao cérebro e ao coração, e tudo quanto me falava era eu mesmo.
Ao cabo, tomava consciência de que a messagem já estava perfeitamente gravada na sua totalidade e que ela não faria mais que se repeter; e então eu lançava fluidamente meu primeiro esboço sobre as telas como quem pare, deixando para mais tarde o acabamento.
Levantava-me após, e despedia-me agradecido dos espíritos sábios das árvores e da terra que tinham-me acolhido e envolvido em sua amorosa rede de influências energéticas... uma das vezes decateime que meu guia subconsciênte tinha-me levado a escolher um lugar de poder justo ao pé de um super-grosso cipó de Jagube, escasíssimos já nos arredores de Mapiá, até o máximo rastrejados... e eu tinha estado, sem saber, sentado o tempo todo e apoiado de costas em seu alto e entortado talho, de musgos e líquens barbado, tal como um idoso duende do bosque. Quando o descobri ao me levantar, ainda em trance, vibrava transmitindo toda a sabedoria da selva por médio de luminosas ondas espirais de cores, que ascendiam e desciam desde suas raízes em terra até as altas copas ao céu livre assomadas e viciversa, impregnando de dourada claridade todo o ambiênte em torno com sua aura, como se ele fosse a antena de um emissor telefônico telúrico-cósmico.

Uma vez levantado, voltava a se incorporar em mim o selvagem, que fazia-me deslizar sem ruído nem vacilação pelos intrincados vericuetos do labirinto vegetal, até re-encontrar a trilha humana, guiando-me com absoluta segurança.
Retornando alegremente à aldeia, percebi em várias ocasiões que me desdobrava, não já num arquétipo, senão em dois ou três: Uma vez senti ao selvagem guerreiro a minha direita, sujeitando o fação com firmeza, enquanto a minha esquerda, caminhando etérea como se flutuasse, ia a Vénus das Cachoeiras, bela e delicada como um anjo, portando ao braço minha pasta carregada de pequeñas telas, instrumentos de desenho e ideias aquarianas. Amazona Aquária, a estrela-guia de meus caminhos de peregrino. No médio, eu sentía-me ao mesmo tempo dividido neles e como incorporando uma terceira personagem: um adolescente messageiro levando suas cartas de amor à Vida para quem quisesse recebé-las, escoltado por um anjo de ferro e outro de luz.
Por fim chegava ao limite do bosque e ali despedia-me da Rainha da Floresta cheio de agradecimento, retornando à minha personalidade externa.
Voltado de meus trabalhos na selva a Mapiá e à casa do cavaleiroso Dom Manuel, sentava-me à sua mesa e passava uma hora dando acabamento aos desenhos recebidos, enquanto o efeito do Daime ia baixando. Nunca como então abençoei o alto dom que supunha ter nascido com vocação de pintor, de des-velador do Mistério invisível na forma, e de ter desenvolvido aquela habilidade mágica, apesar de encontrar-me em um lugar onde não era talvez especialmente apreciada... Dom Manuel dizia-me que poderia chegar a sé-lo, se aprendia a talhar objetos e móveis de culto nas madeiras preciosas da selva, já que a arte de utilidade litúrgica é o único luxo bem mirado em uma sociedade que ainda se encontra na sua fase épica.
Havia no Templo e na Casa da Estrela dois fastuosos cruceiros de dois braços, talhados nas madeiras mais nobres, por um artista genial de cujo nome não guardei; quando os olhava durante os trabalhos, belamente ornados com círculos e estrelas, lembravamam-me as arcaicas cruzes ceremoniais que os celtas esculpiram em pedra irlandesa e bretõa para resumir nesse símbolo o equilíbrio cósmico.
Ante isso, eu refletia sobre como a sofisticada e decadente sociedade da que eu vinha, tinha ido transformando aquele primeiro conceito da Arte, que surge numa comunidade austera e natural como uma cara oferenda à Divinidade dentro e fora do homem, e como uma ferramenta ritual, simbólica e útil de identificação com o Inasível, como talismã de elevação emocional e ordenação mental do coletivo através da sugestão da forma... em algo que alguns críticos de Arte Contemporânea definem como "Aquilo que não serve absolutamente para nada"... salvo para epatar, ou seja provocar descaradamente um instante de leve escândalo à sobérba encastilhada na rotineira ignorância do conhecido…e para especular no mercado de picaretices e ilusões culturais com preços infladíssimos, manipulando estratégias de marketing; assim como para expressar a vaciedade das almas alienadas da maioria dos cidadões do sistema, entre elas as desses mesmos críticos.
...O resto da manhã passava-o fazendo “coisas sérias": isto é, lavando cacharros e roupa no rio, ou cozinhando para Dom Manuel e para mim o único que podía se comer naquele pedaço da Amazônia: "farofa", um refogado de farinha de mandioca, mais feijão, acompanhado de espetos de pescado à brasa, se houve sorte na pescaría, ou arroz, macarrão e um pouco de tomate, cebola ou delícias exóticas semelhantes, se por fortuna algum visitante as tivesse trazido do Mundo Exterior, já que qualquer hortaliza terna que se tentava plantar lá, era picada rapidamente e transportada em pedazinhos ao cupinzeiro. Transformar nosso espaço de selva em um jardim, como diziam os hinos, se referindo à transmutação de nossas energias brutas em sutís, não era tarefa fácil, precisava-se enorme paciência e constância.
Havia, isso sim, fruta suficiênte, variada e com sabor de paraíso; só busca-la e colhé-la; e algumas vacas Brahma, tipo cebú, que davam leite para as crianças... as galinhas não duravam muito em Mapiá: de repente precipitava-se sobre alguma delas uma águia do alto bosque e levava-a à vista de todos. Os animais domésticos, naquele médio, tinham que re-despertar seus instintos selvagens para sobreviver. Que eu saiba, não se caçavam os bichos da selva, por proibição expressa do Padrinho, salvo nos primeiros tempos do assentamento dos daimistas em Mapiá, nos quais não havia outra coisa para comer.

A humildade de nossa alimentação compensava-se amplamente com a generosidade com que todo quanto se conseguia se repartia entre os irmãos: Um visitante podia ir comer a qualquer casa, seguro de que quando entrasse, todos fariam um novo plato, restando partes à ração que lhes tocava, o qual não era uma nobreza exclusiva dos Filhos de Juramidám, senão típica de todo o bom Povo Brasileiro.

Pela tarde eu perguntava o que havia para se fazer e colaborava nos trabalhos da Comunidade, que faziam -se com perfeição, mas sem ânsia nem pressa, para que fosse um prazer trabalhar, e sempre cantando com pura alegria.
Ao dourado entardecer …que atardeceres e amaneceres os da selva! que beleza a do banho no rio ao fim do dia!... eu entregava mansamente minhas energias diurnas à água, memória do planeta, enquanto banhava-se o céu em colorido sobre o bosque infinito, ao mesmo tempo em que todas as aves e insetos interrompiam suas atividades e punham-se a dar graças à Vida cantando nas copas... Depois do banho, aseado, eu subia à aldeia e entrava em qualquer casa de família onde se ouvisse uma guitarra ou uma maraca, ou palmas batendo, somando- me ao grupo que, ao redor da mesa, presidida por uma vela acessa em seu centro, entoava os belos hinos de Oração com fervor. Aquele povo não tinha televisão, mais canal, bem que tinha, e sintonizando-o, passava o tempo olhando a Deus em sua primeira face física, tanto a de si mesmos -a vida interior, familiar, comunitária- como a da pura natureza envolvente: a Criação. Aquelas gentes estavam isoladas do resto do planeta pelo oceano da selva, mas passavam o tempo viajando por todos os mundos possíveis a sua infinita criatividade sobre o tapete mágico da miração.
Fascinavan-me as crianças que povoavam aquelas singelas casitas de madeira e telhado de uralita, que, quando chovía, ressoava como mil tambores: criançass loiras, morenas, negras, índios, orientais, belos seres resultantes do cruzamento de todas as raças no fundo do caldeirão do Grande Alquimista, no Coração do Mundo, a geração da Unidade Planetária, os autênticos nativos do Povo de Juramidám. Crianças super-sadias de olhos puros e vivazes, olhos de noite Lua Cheia, desbordantes de alegria e de inteligência natural, que nadavam como peixes desde bebês, que aprendiam sozinhos a tocar quanto instrumento musical podiam agarrar, começando pelas maracas, meninos que evoluíam na Roda de Energia do Templo em perfeita formação, orgulhosos de suas fardas... pequenos guerreiros e amazonas; crianças fortes e responsáveis que trabalhavam eficazmente desde muito pequenas, colaborando com sua família e com toda a Comunidade, e que sempre, sempre, sempre, estavam rindo.
Crianças amadas como só no Brasil são amadas e mimadas as crianças por suas famílias; meninos expresivos, carinhosos, profundamente observadores, corajosos e discretos, acostumados a olhar diretamente e com simpatia aos olhos de qualquer um; meninas que tinham-se banhado em Ayahuasca desde o momento de sua concepção, que tinham recebido a Bebida de Poder através de sua mãe durante a gestação e a lactância, e todos eles eram batizados com Santo Daime ao nascer, pondo-lhes seus pais uma gota na boca com o dedo.
Ao anoitecer, baixo a grande lua moura tropical e o infindo concerto dos grilhos e as râs, eu ia pela Casa da Estrela, a assistir a limpezas etéricas ou curações, que faziam-se mais dramáticas por causa do forte contraste de luz e sombra que produzia a luz das velas nos rostos; ou bem ao Templo, a cantar e dançar no himnario até o alvorecer...
Um jovem do Sur disse-me um dia: - “Eu estou aqui porque esta é uma religião de alegria; não vejo melhor maneira de sentir a Deus e ao Amor, que cantando e dançando toda a noite junto a meus irmãos, frente a minhas irmãs, com luz sobre todos nós e com o coração aberto”.
Quando havia Feitío, eu jamais deixava de ir, com freqüência junto ao meu anfitrião; e fazia qüestão de honra não deixar de bater Jagube até que se dissipavam as últimas sombras da noite. Já não me lembro a que horas dormia e, no entanto, jamais estive tão forte nem realizei exercícios físicos tão intensos.
Quanto mais escrevo, mais duvido que alguém que não tenha estado ali o possa entender. Nestes escritos eu tenho usado muitas vezes a palavra magia, no entanto quase nunca a usávamos em Mapiá, como tantos outros termos de minha própria formação que aponto para dar uma explicação subjetiva dos fenômenos que experimentei. Em Mapiá não tínhamos consciência de estar fazendo magia alguma, nem sequer falávamos dela. Simplesmente vivíamos na magia e parecia-nos incrível que alguma vez em nossas vidas tivéssemos perdido tanto tempo e energias devotando-nos à aquisição das vaidades do Mundo de Ilusão, em lugar de empregá-las, antes de mais nada, em reconstruir, afirmar ou fortalecer nossa religação interna.

Nos dois anos seguintes, já quase saindo do Brasil, elaborei 86 cartas mais, os Arcanos Menores, que juntadas aos 24 Arcanos Maiores, o Taromidám recebido em Mapiá, conformaram as 110 Cartas ou Estelas do Peregrino.
Os 86 Arcanos Menores são algo já completamente diferente dos 24 Maiores: um jogo de Arte e Psicologia. Constituem minha reflexão posterior sobre o que aprendi de minha experiência pelos caminhos de Peregrinação de Santiago e de Aquária, baixo a luz xogada em meu espírito por meu aprendizado com Carlos Pacini, com o Daime e com o Taromidám.